segunda-feira, fevereiro 27, 2006

32) Um caso complicado pra xuxu!

Xuxu ou chuchu? O vegetal “chuchu” é escrito é escrito com “ch”, mas “xuxu” é uma gíria e significa “grande quantidade”.

Le Petit Écolier

Maintenant, je vais à l'école:
J'apprends chaque jour ma leçon.
Le sac qui pend à mon épaule
Dit que je suis un grand garçon.
Quand le maître parle, j'écoute.
Et je retiens ce qu'il me dit,
Il est content de moi, sans doute,
Car je vois bien qu'il me sourit.

No Brasil as coisas mudam o tempo todo. Sempre aparece um político querendo modificar as coisas e impor sua marca. O ginásio de Tatuí teve um monte de nomes... o “sobrenome”, Barão de Suruí não mudou, mas o “nome”... Ginásio do Estado, Instituto de Educação, Instituto de Educação Estadual, Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus... nem sei quantas vezes e nem vou tentar acertar todas.

Mas as mudanças de nome não são o pior. As mudanças nos sistemas educacionais, na massificação forçada do ensino, nas estratégias anti-evasão escolar e na política da progressão... alguns saem da escola sem aprender coisa alguma, mesmo tendo freqüentado todo o ensino fundamental (anteriormente denominado primeiro-grau, englobando o antigo grupo escolar e curso ginasial). Sabem até ler, mas não interpretam o texto... ou seja, lêem mas não sabem o que significa aquilo que leram. São analfabetos funcionais.

Um ex-aluno do antigo “Barão de Suruí”, por exemplo, saía do Científico, Clássico ou Normal para entrar nas melhores faculdades sem fazer cursinho. USP, ITA, UNICAMP... tudo era possível para os ex-alunos do "Barão". Nunca precisariam do tal "sistema de cotas" para alunos de escolas públicas... Alunos de escola pública eram os melhores!!!

A escola era "puxada", mas sobrava tempo para brincadeiras

A disciplina era rígida e faziam muitas exigências aos alunos, desde uniformes, cabelos, freqüência, aplicação nos estudos... não era fácil, mas aprendiam mais que nas escolas particulares de hoje.

Um dos professores que deixaram sua marca bem forte foi o seu Ciriaco, professor de francês. Seu Ciriaco, era, como todos os demais professores, exigente. Só que ele era especial, pois além de exigente era ranzinza e neurastênico. Ele era espanhol, nascido lá pelos lados dos Pirineus, quase na França e, com isto, embrulhava tudo para falar, misturando português, francês e o espanhol...

A mesa do professor ficava sobre um tablado, cerca de 20 cm mais alto que a classe, colocando-o em uma posição privilegiada, sendo possível observar aos alunos com mais facilidade. Parecia que o homem tinha um olho de lince... via tudo!

- Qu'est que ceci? - Qu'est que cela? - Zero pela leçon e arretire-se da classe! - seu Ciriaco passava a aula toda resmungando e distribuindo zeros pela "leçon"...

Era um homem bravo, mas bom. Ele tinha sido padre (ou quase foi padre) e largou tudo para casar. Ihhh! Como ele era exigente!!!! Eu tive que decorar essa poesia que está aí em cima para sua aula, isto no ano de 1964. Tinha porque tinha que saber “de cor”... taí, mais de quarenta anos e ainda não esqueci!

- Arrepito pela última vez, en français, le verbe avoir tiene la función auxiliaire! – dizia, mais ou menos assim, o seu Ciriaco.

Um belo dia, na aula, ele me chamou:

- Luciano, trazê votre cahier! – me chamava por uma parte do sobrenome, misturando francês com português.



Eu havia desenhado uma caveira com ossos cruzados na capa do caderno de francês, como o símbolo de piratas. O homem, quando viu aquilo, quase enlouqueceu:

- Qu’est que ceci? Zero pela leçon e arretire-se da classe! – determinou seu Ciriaco.

Enquanto saía da classe, cheguei a escutar o professor chamando o João Augusto:

- Trazê votre leçon!

Seu Ciriaco intimidava a criançada com seu falar enrolado e os pêlos nas narinas e nas orelhas. Parecia que tinha uma pequena aranha em cada orelha

Em poucos minutos João, que não havia feito a lição de casa, estava comigo fora da classe. Estávamos um pouco assustados, porque se o Juca Pato, o diretor, nos visse ali... aiaiai, suspensão na certa e problemas em casa. O diretor era ainda mais bravo que o professor... tão bravo que hoje, mais de quarenta anos depois, fiquei pensando se deveria ou não colocar seu apelido aqui (ai de quem o chamasse de Juca Pato!!!).

Mas o pátio ficou animado, a cada um que seu Ciriaco chamava, dava um zero “pela leçon” e mandava sair... parece que não fomos apenas nós dois que não fizemos a coisa do jeito que ele queria. No meu caso, o problema tinha sido a capa do caderno, mas se pedisse minha lição, o resultado seria o mesmo.

Naquele dia, no final das aulas, fomos embora bravos com o professor, que implicava com tudo.

- Ô Jão, vamos dar um jeito no seu Ciriaco? – perguntei ao João.

Meu sonho era um canivete suíço, como este. Tanto o meu quanto o do João eram canivetes simples

Eu e ele tivemos uma idéia para castigar seu Ciriaco: pegamos nossos canivetes, colhemos alguns chuchus e fomos “picar” chuchu na entrada da casa do professor, imaginando que ele escorregaria naquilo e ficaríamos uns dias sem sermos perturbados por ele.

Vegetal colhido para fazer o professor escorregar

Que coisa! Fiquei bastante indeciso em confessar isto. Não devido � possibilidade de machucar o professor, mas pela vergonha em admitir que tivemos essa idéia: picar chuchu para o professor escorregar... picar chuchu na porta do professor, que vergonha!!! Será que não havia alguma outra coisa um pouco melhor que esta para fazer???

Elementary, my dear Watson... It's pricked chayote!

Mas também não deve ter sido fácil para seu Ciriaco descobrir o que havia acontecido nos degraus de sua casa. Descobrir o que era aquela coisa toda picadinha...

Picadinho de chuchu!!! Ainda se fosse quiabo poderia ter uma pequena chance de derrubar o homem, mas chuchu!?!?!?

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