Assim também é o nome que se escolhe para os filhos. O nome marca a pessoa pela vida toda. Só que em Tatuí não adianta a escolha dos pais, o que resolve mesmo é o apelido com que será “batizado”. Aí não resolve nada o nome ser bonito, feio, comum ou exótico. O que vale é o apelido.
Algumas pessoas têm nomes que já parecem apelido, mas mesmo assim não ficam livres do rebatismo: lembro-me do Hermógenes... um nome incomum, rebatizado para Mauzico e, posteriormente, para Meninão. Os exemplos são infindáveis.
Joaquim Mistura recebeu seu apelido devido a um pequeno deslize que cometeu na adolescência.
Sua mãe não tinha renda suficiente e, com isto, fez com que o menino Joaquim trabalhasse para ajudar nas despesas. Creio que trabalhou bastante e “gastou a pilha”, porque nunca mais exerceu atividades produtivas... sua única e exclusiva atividade era tocar pandeiro. E beber, claro!
O emprego que arrumaram para o Joaquim era de entregador de marmitas de uma pensão da cidade. As pessoas comem de pensão devido a inúmeros motivos, sendo que a falta de tempo e a impossibilidade de cozinhar podem ser citados como uma das razões.
Se é uma comodidade comprar a comida pronta, ter que ir buscar a marmita não é uma atividade agradável e, em muitos casos, nem mesmo dá para ir buscar... pessoas idosas, crianças, gente com horários apertados...

Sendo assim, é comum existir “entregadores profissionais de marmita”. Que bela profissão!!!
Joaquim desde criança era malandro. Fazia as entregas, mas distraia-se com facilidade... qualquer jogo de bolinha de gude, uma movimentação diferente na rua, chuva, sol... tudo era motivo para Joaquim demorar-se mais que o previsto.
E tinha um apetite monstruoso. Comia até pedregulho, se fosse possível. E a carga das marmitas exercia uma atração no menino. Adorava carne, almôndegas, croquetes, bolinhos, etc.
Sendo assim, na primeira esquina que virava, quando trabalhava para a pensão, dava um jeitinho e levantava as marmitas para espiar o conteúdo. Olhava de um lado e de outro e surrupiava um bolinho, um pedaço de carne de cada marmita... assim ninguém percebia e reclamava... ele continuaria com seu pequeno delito.
Mas algumas pessoas perceberam a atividade criminosa do Joaquim. Quando viram o Joaquim carregando as marmitas, alguém apontou e disse: “Olha só, o Joaquim roubando “mistura” das marmitas!”
É costume chamar de mistura à carne e aos bolinhos que são servidos com o arroz e o feijão (estes considerados como “comida”).
Pronto! Perceberam o que o Joaquim fazia e logo perdeu seu emprego. Perdeu o emprego, mas ganhou um belo apelido "Joaquim Mistura" que o acompanhou a vida inteira. Ninguém lembra seu nome, só seu apelido. Nem mesmo ele atende pelo nome, Joaquim Soares Carriel... seu nome é Joaquim Mistura e só!

Instrumento que Joaquim Mistura sempre tocou
Joaquim explorou sua veia musical. É o maior tocador de pandeiros que já existiu em Tatuí. Ele é o “Grande Joaquim Mistura” e tocou até mesmo na Radio Nacional do Rio de Janeiro, nos tempos áureos dessa emissora.

Auditório da Rádio Nacional (Rio de Janeiro)
É até mesmo possível considerar a carreira musical do Joaquim Mistura como de grande sucesso, haja vista que só fez isso na vida e nunca mais trabalhou além daquele pequeno período, quando roubava misturas. Foi, em decorrência de sua atividade musical, convidado para todas as festas que aconteceram em Tatuí desde o final da década de 1940 até uns poucos anos atrás.

Joaquim apreciava todo tipo de bebida
Como músico esteve em todo tipo de ambiente: bons e maus, certos e errados, claros e escuros... só não freqüentou igrejas! Vivia em bares, sempre foi apreciador de licores, pinga, vinho, wiskey, chopp, cerveja, conhaque, vodka, rum... tudo, gostava de tudo que tivesse álcool.

Agora a "mistura" preferida do Joaquim não era mais aquela antiga... sua "mistura" tinha que ser rabo de galo... pinga com limão... pinga com soda... rum com Coca-Cola... gim com tônica... vodka com laranjada e assim por diante

Esta é a história do grande Joaquim Mistura, o maior tocador de pandeiros do Brasil.
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