quarta-feira, fevereiro 22, 2006

30) O caso da prótese ocular

Quem me recordou este caso foi a Maria Antonieta, irmã do Pingo, uma das testemunhas desta triste história. Vamos lá!

A mansão dos “Salles Gomes” foi vendida no início da década de 60 para o engenheiro agrônomo Rubens Vieira de Morais, que lá passou a residir com sua família. A casa é, até hoje, uma bela peça arquitetônica, tendo sofrido poucas e pequenas alterações em toda sua existência, não prejudicando seu conjunto.

Dr. Rubens, entre outras atividades, era negociante de automóveis, principalmente autos de luxo. Sua casa era repleta de Cadillack, Lincoln, Chevrolet Impala, Ford Thunderbird, Chrysler, Citroen, Simca, Aero Willys, Interlagos, Gordini. Volkswagen Sedan... e todos os carros dessa época. Com essa atividade, sempre havia necessidade de motoristas, que buscavam ou levavam os carros para outras cidades.

A residência ocupava quase todo o quarteirão. Só a igreja e o teatro do Rosário não faziam parte do imóvel (nessa parte hoje está instalada uma vidraçaria e funerária).

O quintal era estupendo. As árvores frutíferas e frondosas enfeitavam e perfumavam o lugar. Mangueiras enormes, abacateiros, ameixeiras, laranjeiras... todas as árvores frutíferas comuns de nossa região e, além destas, cajuzeiro e um belo pé de jacas.

A parte do pomar não existe mais. Hoje existem diversas residências por lá e o prédio da Telefônica. A casa continua igual, tendo apenas recebido algumas melhorias, adaptando-a a atualidade. O segundo prédio não existe mais. Era um pequeno sobrado, com uma garagem no pavimento inferior e alguns dormitórios na parte de cima. Esses cômodos eram, geralmente, utilizados por empregados da família.

Durante algum tempo, o bisavô do Pingo morou em um desses cômodos, dividindo com motoristas da casa. O bisavô no Pingo, Benedito Pires de Campos, conhecido com Benedito Anastácio, faleceu com 96 anos e até essa idade tocava violão.

Em determinada ocasião, dividiam no mesmo quarto o seu Benedito e o Antonio, um motorista vaidoso que havia sofrido um acidente e perdera uma de suas vistas e, por motivos estéticos, utilizava uma prótese ocular. Aquilo o incomodava bastante, não saía sem seu olho de vidro. Antonio era um homem moreno, descendente de índios e aparência de bonitão. Para dormir, Antonio retirava seu olho de vidro e colocava em um copo com água, deixando-o sobre uma cômoda.

Uma noite seu Benedito acordou com sede e, como estava escuro, procurou, tateando, seu copo para tomar água. Encontrou o copo que o Antonio colocava sua prótese ocular e pensou ser o seu. Já estava com água, mas não se preocupou... sua memória, com mais de noventa anos, não era nenhum primor. Costumava falhar. Levou o copo à boca e virou.

Não esperava que houvesse algo sólido na água e, sendo assim, o olho de vidro do Antonio foi engolido sem qualquer dificuldade. Seu Benedito apenas sentiu uma coisa qualquer, mas vupt, e desceu imediatamente com a água. Era pouco maior que uma cápsula de medicamento.

Na manhã seguinte, Antonio acordou e foi colocar sua prótese. Mas, que o quê! Cadê o olho de vidro? O copo estava vazio. Perguntou ao seu Benedito se ele não tinha mexido ali...

- Ai rapaz, acho que engoli junto com a água! – exclamou seu Benedito.

- O quê???? – gritou Antonio – Como vou fazer agora para sair na rua?

Antonio ficou furioso com aquela situação. Desceu as escadas correndo e foi chamar a dona Claudia, mãe do Pingo:

- Dona Claudia, seu avô engoliu meu olho! – reclamou quase gritando – Que eu faço agora?

Mas a mãe do Pingo tinha expediente. Pegou um penico e disse para o Antonio levar ao seu Benedito:

- Leva lá e pede para ele evacuar só no penico! Fale para ele usar o penico para "descarregar" o olho de vidro. – disse dona Claudia.

E assim foi feito. Para não correr risco de perder a prótese, Antonio não saiu para trabalhar, ficando junto do velho, esperando a hora da “criança nascer”.

Só que as coisas nem sempre acontecem da forma que se deseja. Seu Benedito não conseguiu fazer nem um cocozinho. Só soltou ruidosos puns. Barulhentos e terrivelmente fedidos, mas nada de obrar.

Dr. Rubens acabou indo até Itu com outro motorista. Lá passou em uma loja especializada e comprou outra prótese para o Antonio. Trouxe à tardinha, pensando em resolver de uma vez aquele problema.

Mas trouxe uma prótese de olho azul e a cor do olho do Antonio era castanho bem escuro. Ah, como ficou feio... um olho preto e um olho azul!

- O negócio - disse Antonio - é continuar esperando os resultados da obra do seu Benedito!

Mas a vida nunca anda do jeito que se espera. No segundo dia, seu Benedito também não conseguiu expelir a prótese do Antonio. Tomou um laxante, mas só teve algumas cólicas e aumentaram em intensidade os puns. Ah, mas cada peido!!! Peido de velho é realmente fedido.

Já passava das oito da noite do segundo dia quando seu Benedito avisou ao Antonio que agora sim, viria alguma coisa sólida.

Prepararam o penico, mas seu Benedito não conseguia abaixar-se adequadamente. Seu corpo, quase centenário, não obedecia à vontade do dono.

Ai, ai... ai... ai... nada de abaixar.

O que fazer? O velho não conseguia sentar no penico. E se fosse na privada, adeus olho de vidro!!

Dona Claudia, sabendo da situação, arrumou uma peneira e mandou colocar na privada, encaixada um pouco acima da água... com isto, seu Benedito faria tudo do “modo normal”, sentado no vaso sanitário e a “obra” ficaria na peneira.


Dito Anastácio ficou horas sentado no trono

Antonio entrou junto com seu Benedito na privada. Arrumou a peneira e esperou o velho sentar. Ficou ali, esperando a coisa chegar.

- Agora vem - disse seu Benedito.

Mas não veio. Ficaram mais de uma hora ali dentro. Peidos explodiam um atrás do outro, de todos os tipos: fininhos, grossos, retumbantes, discretos... e fedidos, todos eram fedidos.

O tempo passava, mas a situação não mudava.

De repente, ploft, caiu um troço na peneira.

- Ufa! – suspirou seu Benedito – nasceu a criança!

Logo que seu Benedito levantou, Antonio pegou a peneira com a obra e começou a procurar seu olho. Mexe, mexe, mexe.... nada, não foi desta vez que foi expelido!

- Vamos ter que continuar o serviço, seu Benedito, não saiu ainda. – disse Antonio.

Mas o velho já estava dormindo. O esforço para obrar havia exaurido suas forças.

Sem ter mais o que fazer, Antonio lavou tudo por ali e deitou-se também. Dormiram a noite toda tranquilamente, não aconteceu nada extraordinário. Logo pela manhã, no entanto, seu Benedito levantou-se rapidamente da cama e correu até a privada. A “coisa” estava chegando rapidamente.

Quando chegou lá, viu que a peneira não estava colocada e berrou para acordar o Antonio.

- Antonio, ponha a peneira! Ponha a peneira que vem vindo uma bomba!

Limpar bunda de velho não é tarefa agradável

Correndo, Antonio pegou a peneira e foi ajeitando, enquanto seu Benedito começava a obra ainda sem sentar-se. Puzz, puzz, prrrrr! Sentou-se e evacuou.

Desta vez deve ter feito, no mínimo, um quilograma de mérda. Um pouco escorreu fora, pois não deu tempo, mas a maior parte estava depositada sobre a peneira.

Depois da "coisa" vir à luz, seu Benedito levantou-se e foi tomar um banho. Papel higiênico era muito pouco para a sujeira.

Antonio começou a garimpar o cocô, tentando encontrar seu olho de vidro. Arrasta aqui, mexe ali, espalha acolá... eis que aparece a coisa. Desta vez a obra foi completa. Tudo resolvido.



Uma boa lavada, um pouco de álcool e pronto, já dava para usar aquela prótese.

Sem alternativa, Antonio teve que enfiar a mão na massa

Ainda bem que olho de vidro não enxerga, pois os lugares e as coisas que este presenciou não foram nem um pouco agradáveis. Que horror!

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