segunda-feira, fevereiro 06, 2006

23) O coração de ouro do Ditinho Cigano

Há uns 30 anos todos se reuniam na Praça da Matriz, como era costume nessa época. Formavam rodas de amigos, aqui e ali, todos conversando, rindo, fofocando... a cidade era menos violenta que hoje. Era possível até mesmo dormir em um banco da praça sem ser incomodado.
Praça da Matriz

A ninguenzada que povoa Tatuí e muitas outras cidades brasileiras estava apenas nascendo e crescendo. Não se reuniam em hordas.

Em uma madrugada, cerca de 30 anos passados, estávamos conversando na praça, como de costume.

De repente, apareceu alguém que avisou ter ocorrido um crime: o Ditinho Cigano havia sido baleado!

Alvoroço, todos queriam saber o que acontecera. Ditinho Cigano era bastante conhecido na cidade, era um verdadeiro galã.

Tatuí é uma cidade singular. Ciganos andam pelo mundo todo, mas aqui alguns grupos radicaram-se.

O fato havia acontecido poucos minutos antes, fomos até as proximidades da casa do Ditinho, para obter mais informações sobre o acontecido. Na verdade, isso quer dizer apenas xeretice. Saíram alguns carros da praça lotados de xeretas.

Chegando ao destino, encontramos uma confusão na frente da casa de uns ciganos vizinhos de Ditinho.

- Cabreúva atirou Ditinho!

Fomos perguntando o que havia acontecido e como estava o Ditinho, ao que responderam:

- Ditinho foi levado pra Sorocaba. Ele precisando de sangue! – uma das cigana mais velha exclamou.

- Que tipo de sangue? – um dos preocupados curiosos perguntou.

- Qualquer típu de sangue! O Ditinho tem coração de ouro, aceita qualquer típu de sangue! – respondeu a velha cigana, falando algumas palavras de maneira cantada, como no dialeto cigano, aumentando a confusão.

Alguns dos curiosos que lá estavam foram até Sorocaba, para doar sangue ao hospital onde estava o ferido. Mas quando chegaram era tarde demais, Ditinho não resistiu aos ferimentos e faleceu.

Um dos ciganos que lá estavam perguntou ao médico onde havia penetrado o projétil.

- Acertou a artéria! – respondeu o doutor.

- Ah, disse o cigano, acertô a veia artéria tem que morrer! – sentenciou.

Quando o corpo chegou já era dia. Chamaram o padre para fazer os últimos sacramentos ao defunto. Ciganos têm suas crenças, mas não dispensam as cerimônias católicas.

O padre veio e aspergiu água benta no defunto, enquanto proferiu suas orações.

Assim que o padre saiu, chegou a avó do Ditinho. A matriarca dos ciganos de Tatuí.

Ela, muito triste, examinava o defunto cuidadosamente. De repente, descobriu uns pingos na face do defunto e cismou que ele estava suando:

- O defunto tá suando! Ditinho tá vivo! Ditinho tá vivo!

Enquanto falava, a Vó, como era chamada, foi empurrando o caixão para fazer o morto levantar. Mas o que aconteceu foi que quase derrubou tudo por lá. O tal suor nada mais era que a água benta do padre!

Um comentário:

Anônimo disse...

Alô Fran, estava pesquisando algo sobre ciganos e dei com o seu site SUPIMBA ! Vou acessá-lo mais amiúde.
abraços Daniel Cassimiro-Boituva.