sexta-feira, fevereiro 24, 2006

31) Cidade maravilhosa, viagem horrorosa

Quem me contou este caso foi o próprio protagonista, meu amigo Euchário Holtz - cujos comentários sobre a realidade estão fazendo bastante falta com o besteirol nacional. Ele adorava ir ao Rio de Janeiro. Sempre que possível passava lá uma temporada. Não ia lá apenas para ver as cariocas nas praias. Ia para relaxar olhando para o mar ou simplesmente indo a bares e restaurantes. Sentia-se rico, mais que rico, sentia-se milionário, principalmente quando tomava umas e outras.


Ele costumava relatar que, em um bar que freqüentava nas proximidades da praia de Copacabana, o barman fazia uma maravilhosa batida com whisky e sorvete de coco. Sabia que tinha uns outros ingredientes, mas desconhecia quais eram estes.

– É um frappé, mas um frappé que enlouquece! - costumava lembrar.

Assim, durante alguns anos, dava seus passeios por lá. Ia de ônibus, pois não viajava de avião. Não por medo de voar, já havia experimentado alguns vôos, mas temia sentir-se mal dentro do avião em uma manifestação da sua claustrofobia.

Com o passar dos anos, aumentavam as dificuldades para caminhar e, além disto, mantinha-se gordo e tinha algumas hérnias quase estrangulando. O remédio para as hérnias era a cirurgia, coisa que sempre tentou evitar e assim, para que não acontecesse algo inesperado, mandou fazer uns cintos especiais que lhe seguravam a barriga. Na verdade era mais um “suporte” ou “amparo” para aquela enorme protuberância abdominal, evitando que, ao andar ou apenas se movimentar, as hérnias não estrangulassem.

Se os movimentos ficaram difíceis, a vontade de ir ao Rio de Janeiro continuava firme e ia regularmente. Enfrentava o cansaço e o incômodo da viagem com bom humor, lembrando do tal frappé enlouquecedor.

Sua última viagem, no entanto, foi problemática, acontecendo um fato inusitado que merece ser registrado:

Foi a São Paulo e lá tomou um ônibus para o Rio. Seis horas de viagem! É um tempo razoavelmente grande para acomodar aquele corpanzil na pequena poltrona do ônibus.


Ônibus que fazia a viagem São Paulo - Rio

Mas a recompensa o aguardava no Rio: o tal frappé de whisky que enlouquecia!

Desta vez, porém, o destino não estava de brincadeira, pois logo depois da partida começaram uns movimentos estranhos em seu ventre. Movimentos internos, não era manifestação da hérnia, mas o que se movimentava lá queria sair... e tinha pressa!

Não deu para agüentar e foi ao toalete do ônibus para descarregar aquilo tudo! Mas havia um problema: o tamanho da porta do toalete!!! Não dava para passar naquele vão diminuto com aquela barriga enorme.

Mas a situação interna não podia esperar: ou entrava para evacuar no sanitário ou "aconteceria" nas calças! Para explicar bem como estava a situação, mais uns poucos minutos e a coisa iria acontecer ali mesmo, do lado de fora, na porta do toalete.

Tenta aqui, geme ali, aperta acolá... nada! Não conseguia entrar!

Força um pouco, geme e, de repente, o ônibus fez um movimento brusco para desviar de alguma coisa na estrada e vumpt... apesar de esfregar a barriga no batente da porta, conseguiu entrar. Machucou os locais que estavam rompidos pela hérnia. Mas estava lá dentro e isso é o que importava naquele momento.

- Ufa! - resmungou enquanto usava o vaso sanitário. Depois de alguns longos minutos, terminou seu “serviço”, limpou-se e foi sair.

Ai! Ai! Ai! Que sair o quê! Os locais com hérnia estavam doloridos e e toda aquela região abdominal inchou. Ui! Ui! Ui! Não dava para passar na porta novamente.

Sem alternativa, chamou o passageiro do último banco para que o ajudasse:

- Ô rapaz, ô rapaz, por favor, dá uma mãozinha aqui!

O passageiro veio lhe ajudar, tentando puxá-lo para fora.

- Pare, pare, pare! - gritou. - Está machucando minha hérnia.... pare!

Não dava para passar por aquela porta minúscula com a barriga machucada, inchada, e a hérnia parecendo que já ia estrangular.


Sanitários de ônibus requerem muito jogo de corpo para entrar e sair

Alguns passageiros viram a situação e foram tentar ajudar. Só que não dava para fazer nada naquela hora. Todos olhavam para a parte traseira do ônibus... Logo o motorista percebeu a movimentação no fundo do veículo e resolveu parar no acostamento. Veio também para ajudar, mas não foi possível resolver o impasse da miniporta do toalete.

Depois de alguns minutos de tentativas, seguiram viagem até Resende. Ele seguiu viagem dentro do toalete até que, nessa cidade, entraram na oficina da empresa de ônibus.

Foi somente lá que conseguiram resolver a situação: os mecânicos desmontaram o toalete do ônibus para retirar o infeliz (mas aliviado) passageiro e então prosseguir viagem ao destino: o frappé enlouquecedor!

Depois de "escapar" da cirurgia durante anos, um dia foi obrigado a fazer... se tivesse feito antes, provavelmente este caso não teria acontecido.

Algum comentário dele? Claro, nem um pouco preocupado e sentado à beira mar, tomando seu esperado frappé de whisky, exclamou filosoficamente: - Enquanto a caravana passa, é só pena que voa! Ahahahahah!.

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