quarta-feira, abril 07, 2010

85) Jovens de Outrora

A Internet revolucionou o mundo não apenas em termos de comunicação. No mundo sem fronteiras da Internet, há um constante tráfego de informações eletrônicas de todos os tipos, incluindo textos, figuras, sons e imagens. Tudo isto a alcance de um simples clique. Desde 1995, a rede mundial está disponível aos brasileiros. Agora, todo mundo que acessa a Internet encontra amigos virtuais, utilizando MSN, ICQ ou salas de Chat (bate-papo).

Antes da Internet havia o serviço de vídeo-texto da Telesp, com equipamentos e computadores conectados através da linha telefônica, com alguma semelhança aos serviços da Internet, tais como fóruns de discussão, chat, notícias, e também serviços públicos como consulta à Serasa e ao Detran. Além disso, havia as BBS (Bulletin Board System), um sistema de computador que permitia conexões para trocar arquivos e informações.

Pois bem, com o vídeo texto tornou-se comum a formação de grupos de usuários que acabavam se tornando amigos. A troca de mensagens pelo vídeo texto possibilitava e incentivava as pessoas a se conhecerem pessoalmente, inclusive promovendo reuniões em bares, restaurantes e pizzarias.

Eu comecei a utilizar o vídeo texto com o meu computador XP, em uma época em que não havia o Windows e nem Internet. Ah, noites e mais noites ligado em bate-papos intermináveis. Em pouco tempo, passei a conhecer inúmeras pessoas que também utilizavam esse equipamento. Algum tempo depois, apresentei a coisa ao meu amigo Jaime Fonseca, que aderiu imediatamente. Em 1996, eu e o Jaime conhecemos algumas pessoas nesses bate-papos. Todo mundo se conhecia por pseudônimos. O meu era PETERPAN e o Jaime se apresentava como VICENTE.

Fomos recebidos por uma mulher que parecia um padre todo paramentado!

As salas de bate-papo eram separadas por idades ou por interesses. Eu tinha nessa época pouco mais de 40 anos e o Jaime se aproximava dos 50. Então, conversávamos com pessoas dessa faixa etária na mesma sala. Com isto, conhecemos diversas pessoas de todo o Brasil. Certo dia, resolveram marcar uma festa em São Paulo, com o nome de “Jovens de Outrora”.

Acertamos nosso ingresso e fomos lá. Eu, a Janete (minha esposa) e o Jaime. O buffet escolhido para a festa era bastante sofisticado. A decoração do local incluiu um Chevrolet De Luxe e um Simca Esplanada. Claro, era um ambiente para os jovens de outrora!!! Quando fomos entrando, já ao longe dava para ouvir a música do ambiente: Twist! Isso mesmo, a “trilha sonora” do evento foi na base do twist, rock and roll, iê-iê-iê, bossa nova e músicas da Jovem Guarda. Havia whisky, cuba-libre, hi-fi e cerveja à vontade! E, claro, Coca-Cola e Guaraná Antarctica. Para comer, hot-dog. As coisas da época. Muitas pessoas estavam à caráter, vestidas com roupas da época.

Na entrada, ODETE, a hostess, nos esperava de braços abertos. Foi o primeiro susto! Não tinha idéia de que a tal outrora era tão antigamente!!! A mulher, já de idade avançada, com os braços abertos, mais parecia um padre todo paramentado, pois a pelanca que pendia de seus braços, de longe, dava a impressão de ser como os paramentos que o padre usa nas missas.

Não imaginei que a coisa era assim, "tão outrora"!!

O que havia de mulher careca na festa não foi brincadeira! A vida reserva maus pedaços para algumas pessoas e os tratamentos através de quimioterapia tinham “pelado” muitas daquelas mulheres. Com o vídeo-texto não dava pra saber, claro. Não havia a possibilidade de ver o interlocutor.

Notei que a DEL!CADA, com bastante facilidade, seria capaz de descarregar um caminhão cheio de vigas de madeira. Um cara que conheci, o CONDOR, mostrou que fazia jus ao nome. Só que deveria se chamar “Com Dores”, pois estava bem judiado.

O Jaime, solteiro nessa ocasião, trocava mensagens com uma mulher que dizia ter 45 anos e se apresentava como ELLA. Quando o Jaime avisou que iria ao evento, a mulher (ELLA), disse que tinha 54 anos. Mesmo assim ele topou. Mas era mentira. Ao encontrar a anciã, deduzimos que tinha, pelo menos, uns 65 aninhos.

Passei perto de um grupo e escutei um comentário: “- Olha o ‘tamanhinho’ do PETERPAN!”. Eheheh! A VANDERLEIA, uma carioca, usava uma roupa que lembrava a artista, mas o rostinho... ah, tadinha!

Janete e eu conversamos bastante, com muitas pessoas, enquanto que o Jaime, requisitadíssimo pela mulherada, não parava de dançar. A expressão dele era um reflexo do sucesso que fez na festa. Seu bigode ficava esticado horizontalmente no rosto. O twist e o rock and roll não cessavam. Elvis Presley parecia estar vivo, cantando it’s now or never... pois amanhã será muito tarde!!!. Os Beatles gritavam nas caixas de som: She loves you, yeah, yeah, yeah!

Apesar do susto inicial, a festa foi ótima. Ou melhor, foi uma “Festa de Arromba”, pois esse hit da Jovem Guarda tocou sem parar:

“Vejam só que Festa de Arromba!
No outro dia, eu fui parar...
...
Hey! Hey! (Hey! Hey!)
Que onda!
Que festa de arromba!...”