sábado, abril 15, 2006

47) O forró do Gessé

Este caso difere um pouco dos demais, pois se trata de um acontecimento recente. Cerca de dois ou três anos apenas. Mas mesmo sendo tão recente já possui seu valor “histórico”, motivo pelo qual está sendo registrado aqui.

Durante algum tempo, as noitadas no bairro da Americana estiveram na moda. Isto tudo devido à casa noturna localizada lá, chamada Pantanal. Nos finais de semana muitos iam ao “Pantanal”. O nome é bastante apropriado, pois está em um local que todo ano, por ocasião das chuvas, inunda. Fica mesmo um pantanal.

Em um determinado sábado programaram um grande baile na Americana. A movimentação na cidade começou no meio da semana, todos desejando ir ao baile. O meu amigo Cabreira não poderia deixar de aparecer. Logo ele, amante das noitadas e, principalmente, do forró. Lá era o lugar que aconteciam os mais animados bailes de forró da região. Era um acontecimento “for all”...

Mas para “festar” é preciso animação. Para alcançar o necessário grau de animação, ficou algumas horas “se animando” em um bar da Avenida Firmo Vieira. Quando achou que estava no ponto adequado, partiu para a Americana.

O seu carro estava estacionado no sentido Estação – Centro e, assim, para não fazer manobras perigosas, virou à direita e desceu em direção à Vila Dr. Laurindo. Depois disso é só virar novamente à direita e seguir...

Todavia, com o grau de animação do Cabreira este, que é um caminho fácil, transformou-se em complicadíssimo quebra-cabeça. Vira aqui, vira lá, virá pra cá e pra lá... retorna acolá... que confusão... estava completamente perdido... nem parecia que estava em Tatuí.

Com bastante dificuldade, conseguiu chegar às proximidades da ponte da estrada da Americana. Mas não passou por cima da tal... virou antes e entrou no Jardim Manoel de Abreu. Vira aqui e ali e, de repente, estava na rodovia, perto da Ceagesp.

Ah, não era esse o caminho. Deu meia volta, seguiu e... e... e... perdeu-se novamente. Vira aqui e retorna ali... Não sabia que caminho tomar. Pensou em olhar para as placas das ruas para tentar descobrir onde estava.

Nesse momento, passou por um barracão com alguns letreiros. Esforçou-se um pouco e leu: “Forró do Gessé”. Puxa, sem querer havia encontrado um outro local de forró. Está ótimo! Já que não encontrava o caminho para o Pantanal, este outro forró resolvia seu problema.

Só que ainda estava fechado. Mas casa noturna que se preze não abre mesmo muito cedo. Ainda nem eram 9 horas.

Cabreira traçou uma estratégia inteligente: esperar bem em frente ao portão de entrada do barracão. Assim, quando abrisse ele seria o primeiro a entrar e poderia forrozear à vontade. A mulherada que se cuidasse!!!

Entretanto, em poucos minutos aqueles líquidos que tomou para se animar começaram a reverter o efeito e ele dormiu. Dormiu igual a um bebezinho. Um anjinho. Mas isso não seria problema... quando o tal forró abrisse ele acordaria com a movimentação.

As horas passaram e o dia clareou. Um belo domingo de sol.

Na posição em que estava seu carro, o sol da manhã bateu forte em seus olhos, acordando-o.

- Puxa! Ninguém me acordou e eu perdi o forró! – resmungou.

Olhou para o barracão para ver se ainda via alguém e reclamar...

Mas agora seus olhos não estavam embaçados e leu: “faço forro de gesso”!

"Faço Forro de Gesso" dizia o letreiro.

Não era forró, mas sim Forro de Gesso!!!

Aiaiaí, Cabreira, que confusão!!! Tinha que ter álcool nessa história!!!

sexta-feira, abril 07, 2006

46) O caso do leitE quentE

Até o final da década de 80, o chefe do Almoxarifado da Prefeitura de Tatuí era o Alcebíades Coelho, mais conhecido como Zorro. Trabalhou muitos anos na Prefeitura, até aposentar-se. Faleceu há algum tempo e deixou muitas histórias… Aqui vai uma delas, contada pelo Antonio Alcebíades Paes, sobrinho do Zorro:

Certa ocasião, uma Caterpillar da Prefeitura quebrou, justamente quando estavam consertando e alargando estradas municipais. Tinham pressa, pois havia chovido e, com o terreno úmido, ficava mais fácil de trabalhar. Além disto, sem esses cuidados, alguns trechos ficavam intransitáveis.

Como a coisa era urgente, os reparos na máquina não poderiam esperar.

Nessa época, quando havia pressa em qualquer coisa de São Paulo, alguém teria que ir buscar. Não existiam as entregas como sedex e coisas semelhantes, facilidades mais modernas.

Sendo assim, como havia urgência, o próprio Zorro foi a São Paulo buscar as peças para a Caterpillar. Ele e seu ajudante, conhecido por Nor. Para marcar sua posição, Zorro fez o Nor guiar a Rural Willys da Prefeitura.

Chegaram no fornecedor habitual da Prefeitura, logo ali no bairro da Lapa, em São Paulo. Mas aconteceu um imprevisto: a loja não tinha todas as peças. Teriam que comprar em outro fornecedor.

A própria loja encarregou-se de telefonar em seus concorrentes, buscando as peças que faltavam. Encontraram um fornecedor na Moóca.

Para não perder muito tempo, Zorro mandou o Nor ir verificar nessa loja se realmente eram as peças que precisavam:

- Nor, vai até a loja lá da Moóca, mas não vá logo comprando sem ver direito a peça... tem de ser exata! Vai lá e verifique! – ordenou Zorro.

Nor pegou a Rural e foi até o endereço indicado.

Enquanto isso, Zorro aproveitava para acertar o resto da compra e tomar um café com os vendedores, conhecidos de longa data.

Cerca de uma hora depois, ficou em frente à loja, calculando que já estava no tempo do Nor ir e voltar… Esperou um pouco, despreocupado.

Mas o tempo passava e nada de aparecer o Nor. Aguardou mais uma hora, uma hora e meia, duas horas… começou a preocupar-se… que teria acontecido com o Nor??? Será que foi assaltado? Pensou em ir procurá-lo, mas no mesmo tempo cogitou que poderiam desencontrar… Nessa ocasião nem se sonhava com o celular.

Depois de passar quase quatro horas, Zorro não teve mais dúvidas, tomou um taxi e foi até a Moóca procurar o companheiro.

Foi imaginando as piores situações.

Mas ao chegar no endereço, na mesma hora viu o Nor parado na esquina, conversando. A Rural estava estacionada logo virando a esquina.

- Que aconteceu??? – perguntou Zorro, com um misto de alegria por encontrar seu companheiro e zanga pelo tempo perdido.

- Eu tava esperando o senhor. – respondou Nor.

- Como? Porque esperar aqui… era pra você ter voltado há horas!!! – retrucou o agora furioso Zorro.

- Mas fiz o que o senhor mandou: vim na loja, virei e parei. – respondeu Nor.

- O quê? Eu não mandei nada disso… Mandei você vir aqui verificar se tinha a peça! – gritou Zorro.

- Ah, o senhor falou: vá lá, vire e fique! Foi o que eu fiz! – explicou Nor.

Que burrada, mas é compreensível. Em Tatuí as pessoas carregam sotaques peculiares. Além dos problemas com “erres” e “esses”, há o da pronúncia. O caboclo fala, por exemplo, leitE quentE, enfatizando a vogal “E”.

Uma xícara de leitE quentE

Mas pessoas da cidade pronunciam algo como “leitCHi quentchi”... Em outras palavras, o som da vogal “E” fica bem semelhante ao “I” !!!

Quando Zorro mandou o Nor ir verificar, misturou os sotaques tatuianos e disse algo como “virifique” ou “virefique”... quem não ouviu tal palavra pronunciada assim em Tatuí???

Pois bem, Nor seguiu ao pé da letra: VIRE E FIQUE!

Aiaiaí! Essas coisas só acontecem com tatuianos!!!

segunda-feira, abril 03, 2006

45) Avistamento ufológico

Rubinho Mortana: um igual a este não apareceu. Não conseguia abrir a boca sem inventar alguma coisa, sem tentar pregar uma peça em alguém. Mas suas brincadeiras eram inofensivas, ou quase!

Quer um exemplo?

Um dia, estava trabalhando no Posto 400, quando entrou para abastecer um Odsmobile Cutlass.

- Bom dia, doutor! – cumprimentou Rubinho ao cliente.

O cliente era o Virgilio Montezzo, que corrigiu imediatamente ao Rubinho:

- Eu não sou doutor!

Enquanto os frentistas cuidavam do carrão, Rubinho, muito sério, conversava com o homem:

- O sr. tá sabendo da grande indústria que está vindo pra Tatuí?

- Não! Que indústria?

- É uma grande indústria metalúrgica. Mais de 1.500 funcionários. É uma fábrica de click de bicicleta!

- Ah, fábrica de bicicletas? – perguntou interessado.

- Não, não! Vai fabricar só o click que vai dentro da catraca das bicicletas. Aquele que faz click-click-click quando pára de pedalar! – explicou Rubinho.

Montezzo olhou meio desconfiado… nem insistiu. Não sabia se era brincadeira, pois a fisionomia do Rubinho parecia de um homem sério. Sei lá o que pensou sobre isso, porque logo saiu dali.

Quando saiu, começaram as risadas. Rubinho estava satisfeito, pois era disso que ele gostava: tentar pregar alguma espécie de peça em qualquer pessoa. Esse era o Rubinho Mortana!

Em uma determinada ocasião, teve um posto de gasolina ali da Rua Onze de Agosto, próximo ao Clube de Campo. Era o Posto Shell Rugosil (pegou algumas letras iniciais de seu nome Rubens Gomes da Silva e criou essa marca).

Certo dia apareceram alguns amigos em seu posto. Entre estes amigos estava o Paulinho Duvirges, que também não deixava passar uma oportunidade para fazer alguém de bobo. Planejaram uma brincadeira para a noite: um disco voador!

Compraram do Osório da Telefônica alguns balões cheios com gás helio, papel celofane de diversas cores, fios, velas e alguns potinhos de iogurte.

Enquanto comiam o iogurte, foram montando o disco voador, ajeitando os balões e amarrando os potinhos de iogurte como se fossem barquinhas. Em cada barquinha colocaram um toco de vela. Tudo enrolado com papel celofane de diversas cores.

Quando escureceu, o apetrecho já estava pronto. E querendo voar, “puxado” pelos balões cheios de gás.

Lá pelas oito horas, acenderam as velas para dar os retoques finais. Conferiram a direção do vento. Soprava do sul para o norte.

- Ótimo, dá pra soltar aqui do posto. – disse Mortana.

E assim fizeram. Soltaram o “disco voador”, que subiu rapidamente, com as chamas das velas cintilando no papel celofane… brilhos mil.

Assim que subiu, tomou direção do centro da cidade.

Nesse momento já havia um monte de amigos no posto. Saíram em 3 carros para acompanhar o disco voador, que lentamente sobrevoava a cidade. Acompanhavam buzinando sem cessar, para chamar a atenção de quem encontrassem pelo caminho.

No escuro, as luzes refletidas confundiam todos

Enquanto desciam, as pessoas ficavam olhando para o céu, admiradas com aquela coisa luminosa. Quem tinha um carro, ia junto para observar de perto o fenômeno. Em pouco tempo o objeto voador ultrapassou a cidade, indo em direção ao bairro de Americana. Nesse momento, o cortejo que o acompanhava já tinha mais de uma dezena de veículos. Todos buzinando. Os curiosos iam juntando-se para ver o tal disco voador.

Estavam quase na metade do caminho do bairro de Americana, quando o vento mudou.

O objeto voador fez uma parada e recomeçou a voar mais ou menos para os lados do Morro Grande, desta vez em velocidade maior, porque o vento soprava forte.

Foi uma grande confusão. Todo mundo queria manobrar o carro ao mesmo tempo. Ronca daqui e ronca dali. A estrada não era pavimentada e os carros faziam levantar uma poeira danada.

Em minutos, todos seguiam de volta para a cidade. Em todos os carros tinha gente com a cabeça de fora, para tentar acompanhar o objeto voador não identificado.

Nesse momento já havia mais de 30 carros acompanhando o disco voador. Quando passavam perto de alguém, apontavam para cima e, para não exagerar, tinha alguns milhares de pessoas olhando para aquelas luzes que cruzavam o céu.

A velocidade do vento aumentava rapidamente, uma chuva forte aproximava-se da cidade. A confusão, o vento, a velocidade que os balões voavam, fez com que não conseguissem alcançar.

- Sumiu! O disco voador sumiu! – disse um dos que por ali estavam.

- Pudera, era rápido demais! – completou outro.

Rubinho, Paulinho Duvirges e os outros amigos estavam sem fôlego de tanto rir. A brincadeira havia sido um sucesso. Os comentários duraram semanas. Isso era o que interessava ao Mortana: fazer os outros de bobo. E fez mesmo.

44) O intrigante caso da fechadura semovente

A noite estava agradável. Nem fria e nem quente. Dr. Lanza, como sempre costumava fazer, estava ao portão olhando o movimento da rua. Gostava de ficar conversando ali. Sempre passavam conhecidos.

Em certo momento, Julio, seu vizinho, passou em sua frente, tentando firmar seu passo, um tanto trôpego. Estava voltando para casa. Eram famosas suas escapadas para ir ao bar. Sua esposa tentou de tudo, mas ele sempre achava uma saída. Ela escondia suas roupas e ele saía só com o roupão de banho. Era terrível!!!

- Boa noite! – disse Dr. Lanza ao vizinho.

- Boa noite! – respondeu Julio, tentando mostrar-se o mais firme possível. Mas não parou. Foi até sua casa, abriu o portão e entrou.

Dr. Lanza recomeçou a conversar e em pouco tempo esqueceu de seu vizinho. Uns minutos depois entrou em casa.

Quando estava em seu jardim, ouviu uns resmungos que vinham do outro lado do muro. Parou um pouco para escutar melhor e descobrir o que acontecia. Era seu vizinho que resmungava sem parar… e os resmungos eram acompanhados de praguejar…

Dr. Lanza ficou intrigado. Pensou que ele, que estava um tanto “alto”, poderia ter caído… Parou para escutar melhor. Os resmungos não cessavam. Só que o praguejar aumentava de tom.

Dr. Lanza não teve dúvidas: acontecia algo com seu vizinho.

Correu para lá. O portão da casa vizinha estava sem cadeado. Foi entrando e logo viu uma cena inesquecível:

Julio, empunhando a chave da casa, resmungando e praguejando. Tentava abrir sua porta, mas não conseguia acertar a fechadura.

Tenta mais para cima. Nada! Pragueja…

Tenta abaixo. Nada! Resmunga…

A fechadura não parava quieta! Subia, descia, virava para um lado, virava para outro. E ele, atordoado, cutucava a porta tentando enfiar a chave. Em cima, em baixo, a esquerda, a direita… Não conseguia colocar a chave na fechadura.

É coisa relativamente normal que pessoas um tanto embriagadas não acertem o pequeno orifício da fechadura… mas aquilo era demais.

Dr. Lanza chegou mais perto para ajudar ao pobre do seu vizinho abrir a porta. Foi então que entendeu o imbróglio… Não era a fechadura que Julio tentava acertar com a chave. Havia uma barata na porta e ele, com a vista embaçada, pensava ser a fechadura.

A barata simplesmente fugia a cada tentativa em acertá-la… subia, descia, virava… e o Julio corria atrás da barata com a chave, pensando que era a fechadura da porta… cutucando aqui e ali, sem sucesso.

Aiaiaí!!!! Será que isso só acontece com tatuianos???