terça-feira, março 21, 2006

39) Caipirices ao extremo

Quando escrevi o caso da prótese ocular, lembrei-me da mansão dos Salles Gomes, ali na Praça Paulo Setúbal, na época em que lá residia o Pingo (Carlos Eduardo Vieira de Morais). A gente brincava no quintal da casa, que ocupava o quarteirão todo. Frutas de todo tipo. Era um lugar onde moleques tinham muitas coisas para fazer sem ter que sair na rua. Hoje é a casa do Birdinho.

Na época em que morava lá, seu Rubens, pai do Pingo, negociava automóveis de luxo. Os carrões que apareciam por lá eram todos estupendos.

Mas havia um especial: o Chevrolet Impala! O carro que fazia mais sucesso nesses anos. Lembro-me de um branco, ano 1964, conversível, uma verdadeira maravilha sobre rodas. Um sábado à noite o Pingo deu um jeito de tirar o carro sorrateiramente de sua casa e saímos dar umas bandas... Nós, nesse tempo, éramos todos menores de idade... 14, 15 ou 16 anos!!!

Mas aquele carrão era muito para as ruas tatuianas, que então não tinham pavimentação em sua maioria. Além disso, a cidade começava na Rua São Bento e acabava ali na rua Cel. Guilherme. De outro lado, iniciava na Avenida das Mangueiras e findava no Marapé. A cidade era muito menor.

Como o carro pedia asfalto, fomos, nessa noite, até Capela do Alto, viagem que o Pingo aproveitou para acelerar... acelerar... acelerar... A estrada era nova, o asfalto lisinho, dava gosto andar nela.

Chevrolet Impala conversível 1964

Em Capela do Alto passamos rapidamente pelo centro, onde estavam as pessoas. Para esnobar, no momento em que passávamos na praça da cidade, o Pingo apertou o botão que baixava a capota conversível. O carro lotado de moleques: Pingo, eu, Tadeu Lourenço, Fred Lorenzetti... viramos na primeira esquina e passamos novamente na pracinha, desta vez o Pingo havia apertado o botão para recolher a capota...

Os caipiras de Tatuí tentando impressionar o pessoal de Capela!!! E vai e volta, e ergue a capota e baixa a capota... Seja como for, parou tudo em Capela do Alto para ver o Impala conversível.

A intenção era chamar a atenção das meninas, mas o que aconteceu, de verdade, foi que os caras ficaram queimados com a gente e estavam já se organizando para dar uma surra em nós. Por nossa sorte um pouco antes disso o Pingo resolveu vir embora e, na estrada, ninguém alcançava um Impala. Disto, que as pessoas estavam tentando bater na gente soubemos uns dois ou três anos depois, quando um desses capelenses veio estudar em Tatuí e foi meu colega. Ele quem contou, quando comentei a respeito de nossa viagem de conversível.

O Impala conversível era uma maravilha

Não sei como é hoje, mas há 30 ou 40 anos, eram comuns essas rixas entre cidades. Dá para citar, por exemplo, a relação entre Tatuí e Itapetininga: tatuianos não podiam ir a Itapetininga que logo apanhavam do pessoal. Da mesma forma, os itapetininganos não podiam vir a Tatuí sem apanhar. Conta-se de uma vez que o Zé Turco, o Munir, o Turcão do Bar 80 e mais dois amigos foram até Itapetininga em um Gordini. Nesse carro mal cabiam 5 pessoas um tanto apertadas (ainda mais uns passageiros do tamanho destes). Mas eles apanharam tanto por lá que só couberam 4 pessoas para voltar!

Escapamos por pouco de apanhar em Capela do Alto. Mas imagine só, isto é caipirismo ao extremo... ergue capota, baixa capota, ergue capota, baixa capota!!!! Acho que algo assim merecia mesmo uma surra! Que coisa!

Um comentário:

Anônimo disse...

Really amazing! Useful information. All the best.
»