sexta-feira, março 03, 2006

35) O mistério do lagarto preto

Naquele dia vovô Ernestino completava 75 anos. Era fácil saber a idade dele, pois nascera em 1900. Sendo assim, acompanhava o calendário. Esta nossa conversa aconteceu em 1975, obviamente.

Conversamos diversos assuntos, ele estava muito bem de saúde e feliz por ser o dia de seu aniversário. Perguntei se os tais setenta e cinco anos demoraram para passar, mas ele respondeu que nem percebeu:

- Eu fui à escola, depois casei, montei meu armazém, nasceram as crianças, cresceram, foram à escola, casaram, nasceram os netos, cresceram e eu nem percebi o tempo passar! Logo vêm os bisnetos e parece que o tempo não passou!!! (vovô não conheceu todos os bisnetos: são oito).

Como o assunto era sua história de vida, perguntei se ele havia visto, em seus setenta e cinco anos, alguma assombração. Histórias de assombração são contadas como sendo reais, como tendo ocorrido verdadeiramente, ainda mais em uma época que não havia iluminação... Ali estava uma oportunidade para eu tirar dúvidas, saber algo de uma pessoa que viveu na área rural e urbana:

- Nunca vi! – afirmou.

Depois de uns momentos, lembrou-se de um acontecimento em sua juventude, o qual passou a narrar:

- Eu estava voltando da cidade numa noite... era já bem tarde. Em um ponto da estrada, perto do sítio de meu pai, passamos, eu, o Otávio e o camarada que estava conosco, por um lugar que as pessoas diziam ser mal assombrado – contou. Otávio era um descendente de antigos escravos que morava no sítio de meu bisavô Joaquim dos Santos. Era muito querido de todos. Está enterrado junto de meus bisavós.

As viagens eram feitas a cavalo, cruzando estradas sem pontes.

O sítio de meu bisavô ficava no bairro Pederneiras, perto da Fazenda do Paiol, quase no município de Itapetininga. A área do sítio também chegava na Enxovia, que era o local preferido para plantar.

- Quando passamos pelo tal lugar, que diziam ser mal assombrado – continuou a contar – os cavalos ficaram assustados e escutamos ruídos estranhos no meio do mato fechado.

- Dei um grito e disse: “Se tiver alguma coisa, que apareça!” – continuou a contar - Pois não é que surgiu uma espécie de lagarto, escuro, que andava apoiado nas patas traseiras. Um bicho que nunca vi igual.

- Esse lagarto esquisito avançou sobre nós – explicou vovô. Tentava agarrar um dos pés do Otávio, que estava assustadíssimo.

Os cavalos já estavam assustados e quiseram empinar. Quase cai, mas dominei e apertei as esporas. Saímos em disparada, rumando para o sítio!

Quando contava isto, vovô tinha um olhar sério. Parecia que ele estava vendo a cena novamente, visão que marcou profundamente, como dava para perceber.

Estas ilustrações feitas a partir de relatos de testemunhas, mostram o chupa-cabras com bastante semelhança ao ser que vovô descreveu como sendo um "lagarto preto".

- Nós corremos para o sítio e o tal lagarto, em pé nas patas traseiras, vinha perseguindo e assoprando um terrível assobio estridente – continuou a contar. Eu nunca tinha visto um animal igual. O tal lagarto nos perseguiu até o sítio.

Vovô disse que entraram quase que em disparada dentro da cocheira, onde havia mais um cavalo, totalmente estressado. Todos estavam assustados: ele, seu companheiro e, principalmente, os três cavalos. Se a escuridão pode assustar um homem, que pensa em mil e uma coisas, o mesmo não acontece com animais. Animais ficam assustados quando percebem, com seu instinto, uma real ameaça.

- Entramos na cocheira montados e logo descemos para proteger os cavalos. Inclusive o cavalo que já estava na cocheira e que não tinha visto o bicho, mas que se mostrava bastante assustado com o assobio que vinha de fora – explicou.

- O lagarto não ia embora. Ficava dando seus gritos parecidos com assobios e corria pelo campo ao redor da sede do sítio. Não saímos da cocheira, pois tinha uma distância razoável até a casa, mas não dava para arriscar na escuridão e com aquela coisa rondando – narrou.

- O bicho, apoiado nas patas traseiras, media cerca de 1 metro de altura. Naquilo que deu para perceber, sua fisionomia era horrorosa. Coisa igual nunca vi! – completou.

Como não encontrou uma explicação e nem tinha alguém que lhe desse uma idéia do que poderia ter sido o tal encontro, em pouco tempo vovô nem mais se lembrava do tal bicho, principalmente porque se casou e veio morar na cidade. Umas poucas vezes contou este fato, para não pensarem que ele teve uma alucinação. O caso lhe veio à memória quando lhe perguntei sobre assombrações.

Agora quem fica pensativo sobre o tal bicho sou eu... O tal lagarto preto. Como hoje temos muito mais recursos de pesquisa, como a Internet, procurei achar alguma coisa semelhante para buscar fundamentação à história de vovô. A coisa que mais se assemelha ao tal lagarto preto é uma aparição denominada de “chupa-cabras”.

Inúmeros relatos afirmam ter encontrado ou avistado o tal chupa-cabras. Isto existe em todo o planeta. As descrições apontam para um ser de feia aparência e com forma física diferente de qualquer outro animal conhecido.

Há muita semelhança entre o chupa-cabras e o bicho que vovô encontrou. Ele não mentiu quando disse ter avistado o tal lagarto preto. Foi assim que ele definiu aquele vulto que o perseguir naquela noite.

Alguns corpos expostos como sendo o chupa-cabras apresentam semelhança com um lagarto. E qual será a origem desse ser estranho? Terrestre? Extraterrestre? São inúmeras as teorias, mas não há explicação plausível.

Será que extraterrestres visitaram o bairro de Pederneiras naquela noite de 1920?

Bem, vamos supor que a origem seja extraterrestre, como afirmam alguns estudiosos desses eventos. Sendo assim, o ET de Varginha é muito posterior a este acontecimento aqui narrado, visto que aconteceu aproximadamente em 1920.

Sendo assim, temos que colocar o ET de Tatuí nos anais dos avistamentos e contatos imediatos. O lagarto preto do bairro de Pederneiras.

Não duvide, pois o que fez o bicho aparecer foi justamente a atitude cética de meu avô, que praticamente chamou o bicho. Quem quer se arriscar?

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