quinta-feira, julho 06, 2006

53) O Velho Oeste é aqui!

Acho que este caso cabe muito bem aqui. Aconteceu comigo, pouco tempo depois de ter comprado meu Hyundai. Já faz 10 anos que estou com esse carro.

Certo domingo fui até o bairro de Americana, simplesmente porque não tinha outra coisa a fazer. Eu e a Janete. Em uma das curvas da estrada há um caminho que serve de entrada para algumas chácaras, utilizando o antigo leito da Sorocabana. Havia, bem na entrada, um bambuzal que quase fechava tudo, formando uma espécie de túnel.

Sempre que passava por lá, tinha curiosidade de entrar naquele túnel de bambu e conhecer o lugar. Nesse domingo, como não tinha destino certo, resolvi entrar...

Saí da estrada asfaltada e entrei naquela mistura de trilha com estrada, pouco mais largo que uma estrada de ferro. Há diversas chácaras por lá, a maior parte delas de lazer. Um belo local.

Como estava apenas buscando conhecer, continuei seguindo aquela estradinha. Muito estreita, impossível de manobrar. Continuei o passeio até encontrar um lugar para retornar.

Entrei em uma curva. Do lado esquerdo o barranco estava mais alto. Do lado direito o mato crescia ao lado da cerca. De repente, dou de cara com um homem mascarado, com uma pistola automática na mão, escondido em uma moita na beira da estrada.

O olhar do mascarado não era amigável

O homem virou-se para mim... deu para perceber em seu olhar por trás da balaclava, que eu havia interrompido algo importante.

Pensei em voltar, mas era impossível. O caminho estreito demais para manobras. De um lado o barranco era bastante alto, do outro havia cerca de arame farpado. Teria que encontrar mais adiante um local para virar o carro. Engatei a primeira marcha e disse para a Janete segurar-se, pois se precisasse eu iria acelerar para fugir.

E a curva da estradinha, curva de estrada de ferro, ainda não havia terminado. Passei bem ao lado do sujeito mascarado, que nesse momento estava em pé. Alguns metros adiante, vi outro homem armado.

A cada instante a coisa ia piorando!

Desta vez era um barbudo, vestindo uma capa impermeável de cavaleiro (em dia de sol), com chapéu e armado com um rifle semelhante a Winchester.

“Epa! Estou no lugar errado na hora errada!” – pensei. “Devem ser alguns bandidos lutando entre si ou ‘desovando um presunto’”! – conclui.

Estava pronto para acelerar, como única alternativa para escapar daquela situação, quando dou de cara com mais um homem barbudo armado com revólver. Percebi que tinha um revólver na mão e outro no coldre.

O terceiro homem tinha um revólver na mão e outro na cinta

Eram três pessoas armadas naquele local semi-deserto.

Pensava em diversas coisas em frações de segundo... Arrependi-me da idéia de entrar naquele lugar. Como sair dessa situação??? Certamente que aqueles sujeitos não iriam deixar testemunhas de sua ação! Pensei em tudo, nos filhos, na vida, na Janete - coitada, estava ali ao meu lado -, na mãe!!!! Que situação!

Eu estava guiando bem devagar, para sentir as reações dos homens armados. A curva ainda não havia terminado. O barranco impedia enxergar o final da curva. Passei ao lado do barbudo que vestia a capa. Seu rosto demonstrava que ele estava muito contrariado com minha interrupção ali.

Que situação!!!

Olhei para ele. Tive a impressão que estava sujo. Barbudo e sujo. Tinha também um revólver, que guardava no coldre. Este deveria ser o chefe, pois os outros olhavam para ele, esperando alguma atitude dele ou ordem, talvez.

Eu dirigia com todo cuidado. A rotação do motor já estava um pouco mais alta. Os pés preparados para embrear, acelerar... eu ia tentar uma fuga. Esperava apenas uma reação dos homens.

Uns metros adiante, bem no final da curva, percebi mais uma pessoa. Estava bem no meio da estrada. Meu pensamento girava com o dobro da velocidade. Enquanto observava as reações dos outros três, considerei que teria de passar por cima da quarta pessoa. Ele estava impedindo minha passagem.

Este homem trazia algo sobre seus ombros. Uma bazuca? Não! Olhei melhor e reconheci essa pessoa. Tratava-se do professor Pedro Henrique de Campos com uma câmera VHS engatilhada.

Rapidamente entendi a situação. Com a redução do nível de adrenalina, foi possível reconhecer o barbudo. Aliás, barba postiça. Era o Expedito de Lima, carpinteiro, encanador, eletricista, quebra-galhos, ator, cineasta, produtor e diretor tatuiano. Fez dezenas de filmes. Quase todos eram faroestes. Lembro-me do título de um deles: “A Víbora Humana”. A atriz principal foi sua namorada.

Os outros eu não reconheci. O que dificultou mais um pouco para perceber que era coisa do Expedito foi o inesperado. Quem poderia imaginar encontrar um bando de homens armados, fingindo, ou melhor, representando bandidos?

Expedito, como sempre, era o mocinho. Mas com sua fisionomia de caboclo, mais parecia um bandoleiro mexicano. Pensando bem, o filme poderia não ser faroeste, porque o mascarado usava uma pistola automática, parecida com aquela que o Fantasma do gibi usa!!!

Para dar impressão de veracidade, creio que ele havia rolado na poeira, sujando-se, pois estava imundo. Pensando bem, todos os integrantes do “cast” de Expedito, incluindo ele próprio, só poderiam fazer papel de bandidos... ninguém tinha cara de mocinho!

Nenhum dos três tinha cara de mocinho... pela aparência pareciam ser bandidos. E o Expedito, com sua fisionomia de caboclo, parecia mesmo um bandoleiro mexicano!

Pedro Henrique é um dos maiores cinéfilos tatuianos. Ele gostava tanto de cinema que trabalhou durante longos anos operando o projetor do Cine São Martinho. Tenho a impressão que nem cobrava pelo seu serviço!!! Depois do fechamento dos cinemas e com o aparecimento da filmadora VHS, passou a filmar, sempre que possível, alguns dos principais eventos de Tatuí.

Andei mais alguns metros e encontrei um lugar para manobrar o carro. Ufa! A sensação de alívio era enorme. Pudera, havia saído daquilo que parecia ser o próprio inferno.

Quem poderia imaginar que aquele local isolado havia sido transformado em cenário de filme de faroeste?

Algum tempo depois o tal filme foi apresentado em sessão organizada lá no barracão do Dedé. Não deu certo para eu ir assistir, mas ainda quero ver o danado...

Expedito sentia-se como John Wayne atuando, ao mesmo tempo em que pensava ser John Ford dirigindo...

Expedito só não conseguiu representar Zorro, o Cavaleiro Solitário, porque ninguém queria fazer o papel do Tonto

Ele fez inúmeros filmes e fotonovelas. Fotos preto e branco, coloridas... filmes Super-8, VHS... Tudo correndo por sua conta e risco. Não há investidores disponíveis. Tudo é difícil. Se fosse aos Estados Unidos, alguém iria financiá-lo e poderia até estar realizando filmes com equipamentos adequados e, provavelmente, fazendo sucesso. Mas aqui... Não tem futuro. Coisas do Brasil.

Um comentário:

Anônimo disse...

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