segunda-feira, março 14, 2011

91) Pastéis do Bar XV

O Bar XV foi ponto de reunião da sociedade tatuiana durante muitos anos. Sua inauguração foi comentada até em outras cidades. Bar e Restaurante XV. Passou por alguns donos até ser fechado. Não conheci todos eles, mas me recordo do Orlando Paulino da Cruz que, juntamente com sua esposa, dona Terezinha, dirigiu o bar e o restaurante durante alguns anos. Eu costumava almoçar lá com meus pais, durante esse período. Algum tempo depois, o restaurante deu lugar às mesas de snooker. Orlando Cruz ganhou muito dinheiro nesse bar, adquiriu o antigo Bar do Batista, derrubou o prédio velho e construiu outro, onde instalou o Bar Itamaraty. Um luxo na época.

Outro proprietário também se chamava Orlando (Orlando Soares). Por coincidência, os dois Orlandos eram homens bravos. Trabalhadores, honestos, mas com uma paciência curtíssima.

O tempo passou, as coisas modificaram-se e atualmente não mais existe o Bar XV. Ou melhor, parece que o tempo dos bares e restaurantes na Praça da Matriz já passou. Hoje é um centro comercial e bancário, com pessoas apenas passando por lá, sem muitas reuniões como costumava acontecer antigamente. É lógico que restam por lá alguns dinossauros: o pessoal do Senadinho, que insistem nos bate papos sob a sombra de alguma arvore.

Nos últimos tempos do Bar XV, o proprietário foi um português chamado Manoel. Não é falta de imaginação. O nome dele era mesmo Manoel. Nessa época, ainda havia algum movimento de pessoas na Praça, mesmo tarde da noite. O bar era um dos locais mais frequentados.

Mas os negócios do bar já estavam fracassando e o Manoel, buscando obter alguma renda, tentava incentivar seu negócio, preparando alguns jantares extras, principalmente visando convidar o Zé Turco e seus amigos, que não se importavam com os gastos.

Uma noite eu também fui. Estávamos conversando na praça, quando o português apareceu avisando que “estava pronta a janta”, como ele falou. Não pensei em ir, no primeiro momento, mas o Zé Turco disse que o português estava apertado financeiramente e achava melhor ir comer. Fomos lá, eu, Zé Turco, Elói Machado, Sérginho Corretor, Carminho Giudicci, Mauricio Camargo e mais alguns. Éramos em oito pessoas.

Quando fomos jantar, o português sentou-se junto conosco. Não parava de falar, entrava em todas as conversas, tomava batidinhas, vodka, cerveja... e comia como um leão. Zé Turco e Elói estavam bem alegres. Nem se importavam com o danado português.

Na hora de pagar, o homem apresentou a conta com esta descrição: 9 jantas: tantos
Cruzeiros (nesse tempo a moeda nacional era o Cruzeiro).

- Mas estamos em oito pessoas! – eu reclamei.

O espertalhão do português, protestou, dizendo:

- E eu? E eu? – somando-se ao grupo.

Pois o danado fez a comida, comeu junto sem ser convidado, bebeu e incluiu essa despesa na conta. Além disso, reclamou comigo que o Zé Turco sempre pagava sem achar ruim... na verdade, o Zé não havia percebido essa malandragem do Manoel. Ah, mas o castigo veio a cavalo!!!

Como o português era “espertinho”, logo as pessoas perceberam e os clientes sumiram. Mas antes disso, o Zinho Rosa resolveu passar um trote no Manoel, pois não havia sido devidamente atendido nesse bar. Do seu escritório, Zinho ligou ao Bar XV, modificando sua voz e apresentando-se como sendo o Jonas da Casa dos Presentes.

- Alô! É o Manoel? Boa tarde! Aqui é o Jonas da Casa dos Presentes! – disse o Zinho, fingindo ser o Jonas. E continuou:

Os pastéis do Bar XV ainda existem, agora na lanchonete Soares

- Estamos fazendo uma confraternização aqui na loja e quero que você faça alguns pastéis. Pode ser? – indagou o “Jonas”, como supunha o Manoel.

- Ah, claro que sim! – afirmou o português.

- Então traga 20 pastéis de carne, 20 de queijo e 20 de palmito! – disse o “Jonas”. – E traga 5 Cocas litro, bem geladas. E traga já abertas, porque não tenho abridor aqui.

Meia hora depois, aparecem na Casa dos Presentes o Manoel e um funcionário carregando uma cesta com 60 pastéis e os 5 litros de Coca-cola abertos. Dirigiu-se ao Jonas e logo foi constatado que se tratava de um trote.

O Jonas penalizou-se com o caso e ficou com parte daquela encomenda, que serviu aos seus funcionários. Pagou apenas o preço de custo, mas o português não teve maiores perdas. Algum tempo depois, porém, o português atendeu ao telefone do bar:

- Alô! Manoel? Aqui é o Jonas da Casa dos Presentes! Desta vez não é trote! – explicou a voz ao telefone. - Se você puder, mande 20 pastéis de carne e 20 de queijo, junto com 3 cocas litro, bem geladas! Resolvi dar uma festinha aos funcionários e você também está convidado!

O Manoel não pensou duas vezes. Meia hora depois levou a encomenda ao Jonas. Mas era mais um trote do Zinho Rosa, que bisava o caso dos pastéis. O português era muito espertinho, mas acabou caindo duas vezes. Desta vez, porém, o Jonas não teve dó e dispensou o homem com seus pastéis... kkk

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