sexta-feira, agosto 13, 2010

88) A família dos Mé

A privatização modificou o cenário econômico brasileiro. Hoje há inúmeras companhias privadas atuando em mercados que eram dominados por empresas estatais ou mistas. A telefonia e a distribuição de energia elétrica são alguns exemplos. Existem diversas empresas atuando no mercado de comunicação ou de distribuição de eletricidade.

Este caso aconteceu há alguns anos, quando a concessionária de energia elétrica que operava em Tatuí era a CESP (Centrais Elétricas de São Paulo S/A), empresa de economia mista. Na filial de Tatuí, trabalhou lá, durante muitos anos, o Luiz Del Bem Jr., hoje advogado atuante nesta Comarca e excelente contador de causos. Pois foi exatamente ele quem me contou o caso aqui registrado, afirmando ser pura verdade.

O escritório da CESP em Tatuí funcionava como uma sub-regional, sendo que daqui saíam as coordenadas para os municípios circunvizinhos que eram atendidos por essa concessionária. Havia a necessidade de realizar um cadastramento dos consumidores de energia elétrica da cidade de Tietê e, pelos motivos já explicados, foi o escritório de Tatuí que efetuou tal ação.

Del Bem coordenava essas atividades em Tatuí e viajava quase todos os dias a Tietê, para acertar o tal cadastro. Destacou um funcionário, conhecido como Corruíra, para digitar os dados dos consumidores tieteenses no cadastro da CESP. Uma tarde, passando perto do Corruíra, ouviu-o comentando com colegas que a família Mé era a maior de Tietê:

- Puxa, parece que todo mundo de Tietê é da família dos Mé! – comentou surpreso com um colega.

O Del Bem achou que ele havia se enganado e perguntou:

- Você está falando da família Melaré? – questionou a mesmo tempo sugerindo uma resposta.

- Não! É família Mé mesmo! – explicou o Corruíra.

O assunto não prosseguiu naquele dia, pois cada um dos personagens tinha tarefas específicas a cumprir e foi o que fizeram. Os dados exigidos para cada consumidor ser cadastrado eram muitos e, por isso, o trabalho do Corruíra prosseguiu mais uns dias.

Na semana seguinte, Del Bem lembrou-se da questão das famílias tieteenses e perguntou novamente ao Corruíra:

- Não será a família dos Mello que é grande na cidade? – mais uma vez questionou sugerindo.

- Não! – assegurou o Corruíra. – É tudo gente dos Mé! – reafirmou.

Intrigado com o caso, o Del Bem foi conferir a papelada do cadastro dos consumidores de Tietê. Logo encontrou a resposta às dúvidas que teve. Como a cidade vizinha sempre se destacou pelas pequenas confecções e outras microempresas, um grande número de pessoas estabelecia-se em sua própria casa com uma confecção, uma oficina de costura ou outro estabelecimento congênere. Para conseguirem financiamentos de máquinas ou equipamentos, além de outros empréstimos, não ficavam na clandestinidade e logo abriam uma microempresa.

Dessa forma, havia no cadastro que o Corruíra digitava, uma infinidade de microempresas, como “José Beltrano ME”, “Maria de Tal ME”, “Fulano de Tal ME”, “Cicrano Beltrano ME”, etc. que ele lia e entendia como “Mé”, imaginando que fosse uma enorme família dessa cidade.

Ah, por sorte o tieteense Cornélio Pires já se foi há muito tempo, pois ele não deixaria de fazer um comentário enquadrando a inteligência do Corruíra ou qualificando o Del Bem como um novo Joaquim Bentinho...

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