sexta-feira, agosto 13, 2010

87) Casamento Cigano

Se há uma coisa que ciganos fazem muito bem é festa, principalmente em casamentos. O casamento, para o povo cigano, constitui em uma das tradições mais bem conservadas, pois representa a continuidade de um grupo. Pessoas desinformadas podem ter ideias erradas a respeito dos costumes típicos, mas ciganos são excessivamente rigorosos quanto ao casamento. Há, inclusive, impedimentos para casamentos entre ciganos e não-ciganos. As exceções dependem de alguns fatores que não dizem respeito a este caso.

Há um mote que descreve a vida desse povo: “O Céu é meu teto, a Terra é minha pátria e a Liberdade é minha religião”. São essencialmente nômades, porém, em Tatuí alguns grupos radicaram-se na cidade há décadas.

Certo dia, alguns anos atrás, aconteceu um casamento cigano em Tatuí e, como não poderia deixar de ser, festejado por muitos convidados em uma festa memorável. Após a cerimônia religiosa - também indispensável conforme a tradição desse povo -, começaram os festejos, em uma tenda improvisada em um terreno com um grande quintal. Tudo estava enfeitado com ornamentos que lembravam suas tradições.

Homens e mulheres vestidos com roupas típicas, com muitos brilhos de ouro, prata e pedras preciosas. Um monte de gente bonita. A festa foi um espetáculo inesquecível para quem assistiu, além do banquete, com comida e bebida abundantemente servidas.

Depois dos rituais costumeiros, a festa prosseguiu sob o som de um grupo de músicos muito conhecidos na cidade nessa ocasião. O instrumento que liderava o arrasta-pé era a sanfona, tocada pelo Dito Cigano. O instrumento que nunca faltava por lá era o baixo-tuba, tocado com muita categoria por outro cigano, o Mé. Os demais músicos eram Martinho Medeiros, na caixa; Mário Chulé, no bumbo; e Zé Largo, no contra-surdo. Devido à possibilidade de chover, a banda ficou em um palco improvisado dentro da tenda, mas estrategicamente colocada de maneira tal que mesmo quem estivesse fora pudesse ouvir. O grupo tocou inúmeras melodias durante horas, com pequenos intervalos para comer e beber.

A festa avançou pela madrugada. No dia seguinte, de acordo com a tradição cigana, ainda haveria mais festas. Mesmo assim, o grupo de músicos parecia incansável. A sanfona puxava as melodias. Muitos dançavam há horas. A alegria era visível por todos os lados. Os noivos, sentados à mesa principal, conversavam e eram cumprimentados por todos os convidados.

O baixo-tuba (sousafone) da banda foi o instrumento mais presente em todas as festividades que aconteceram em Tatuí durante muitos anos, pois o Mé adorava tocar. Não perdia uma oportunidade de mostrar seus dotes musicais, mesmo porque era para ele um grande prazer. Tocava em festas, igrejas, procissões, bailes ou mesmo na Vila do Céu. O negócio dele era soprar aquele enorme instrumento.

E nessa festa, depois de algumas horas tocando e tomando uns tragos, ficou meio descuidado e, sem prestar muita atenção, empolgando-se com uma determinada música, acabou esbarrando a borda da campânula da tuba em uma chave de fusíveis, daquelas do tipo “faca”, sem proteção contra choques, que ligava a energia na tenda.

Ah, mas que horror! No contato com a eletricidade a tuba “grudou” na chave e, como aquele instrumento envolve grande parte do corpo, a corrente de 220 volts fez o Mé gritar e chacoalhar-se, tentando livrar-se daquilo, mas não conseguiu, pois a eletricidade provocava fibrilações intensas. Desmaiou e caiu e, com isto, interrompeu a passagem da corrente elétrica pelo seu corpo. Todos correram acudir, mas o pobre músico não voltava a si. Foi necessário levá-lo à Santa Casa onde, algum tempo depois e com atendimento médico, acordou.

Mas a festa acabou. Todos ficaram preocupados com o Mé e não mais havia clima para isso. Logo que chegou a notícia de que o músico recobrou a consciência e estava bem, todos se alegraram e confirmaram o prosseguimento da festança no dia seguinte. Com muita música e com o Mé tocando sua tuba, claro. Pópópópópó!!!!

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