sexta-feira, abril 07, 2006

46) O caso do leitE quentE

Até o final da década de 80, o chefe do Almoxarifado da Prefeitura de Tatuí era o Alcebíades Coelho, mais conhecido como Zorro. Trabalhou muitos anos na Prefeitura, até aposentar-se. Faleceu há algum tempo e deixou muitas histórias… Aqui vai uma delas, contada pelo Antonio Alcebíades Paes, sobrinho do Zorro:

Certa ocasião, uma Caterpillar da Prefeitura quebrou, justamente quando estavam consertando e alargando estradas municipais. Tinham pressa, pois havia chovido e, com o terreno úmido, ficava mais fácil de trabalhar. Além disto, sem esses cuidados, alguns trechos ficavam intransitáveis.

Como a coisa era urgente, os reparos na máquina não poderiam esperar.

Nessa época, quando havia pressa em qualquer coisa de São Paulo, alguém teria que ir buscar. Não existiam as entregas como sedex e coisas semelhantes, facilidades mais modernas.

Sendo assim, como havia urgência, o próprio Zorro foi a São Paulo buscar as peças para a Caterpillar. Ele e seu ajudante, conhecido por Nor. Para marcar sua posição, Zorro fez o Nor guiar a Rural Willys da Prefeitura.

Chegaram no fornecedor habitual da Prefeitura, logo ali no bairro da Lapa, em São Paulo. Mas aconteceu um imprevisto: a loja não tinha todas as peças. Teriam que comprar em outro fornecedor.

A própria loja encarregou-se de telefonar em seus concorrentes, buscando as peças que faltavam. Encontraram um fornecedor na Moóca.

Para não perder muito tempo, Zorro mandou o Nor ir verificar nessa loja se realmente eram as peças que precisavam:

- Nor, vai até a loja lá da Moóca, mas não vá logo comprando sem ver direito a peça... tem de ser exata! Vai lá e verifique! – ordenou Zorro.

Nor pegou a Rural e foi até o endereço indicado.

Enquanto isso, Zorro aproveitava para acertar o resto da compra e tomar um café com os vendedores, conhecidos de longa data.

Cerca de uma hora depois, ficou em frente à loja, calculando que já estava no tempo do Nor ir e voltar… Esperou um pouco, despreocupado.

Mas o tempo passava e nada de aparecer o Nor. Aguardou mais uma hora, uma hora e meia, duas horas… começou a preocupar-se… que teria acontecido com o Nor??? Será que foi assaltado? Pensou em ir procurá-lo, mas no mesmo tempo cogitou que poderiam desencontrar… Nessa ocasião nem se sonhava com o celular.

Depois de passar quase quatro horas, Zorro não teve mais dúvidas, tomou um taxi e foi até a Moóca procurar o companheiro.

Foi imaginando as piores situações.

Mas ao chegar no endereço, na mesma hora viu o Nor parado na esquina, conversando. A Rural estava estacionada logo virando a esquina.

- Que aconteceu??? – perguntou Zorro, com um misto de alegria por encontrar seu companheiro e zanga pelo tempo perdido.

- Eu tava esperando o senhor. – respondou Nor.

- Como? Porque esperar aqui… era pra você ter voltado há horas!!! – retrucou o agora furioso Zorro.

- Mas fiz o que o senhor mandou: vim na loja, virei e parei. – respondeu Nor.

- O quê? Eu não mandei nada disso… Mandei você vir aqui verificar se tinha a peça! – gritou Zorro.

- Ah, o senhor falou: vá lá, vire e fique! Foi o que eu fiz! – explicou Nor.

Que burrada, mas é compreensível. Em Tatuí as pessoas carregam sotaques peculiares. Além dos problemas com “erres” e “esses”, há o da pronúncia. O caboclo fala, por exemplo, leitE quentE, enfatizando a vogal “E”.

Uma xícara de leitE quentE

Mas pessoas da cidade pronunciam algo como “leitCHi quentchi”... Em outras palavras, o som da vogal “E” fica bem semelhante ao “I” !!!

Quando Zorro mandou o Nor ir verificar, misturou os sotaques tatuianos e disse algo como “virifique” ou “virefique”... quem não ouviu tal palavra pronunciada assim em Tatuí???

Pois bem, Nor seguiu ao pé da letra: VIRE E FIQUE!

Aiaiaí! Essas coisas só acontecem com tatuianos!!!

2 comentários:

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

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