quarta-feira, abril 28, 2021

80) Riscando e rabiscando

Hoje as tatuagens estão na moda. Tatuagem e piercing. Primeiramente o culto ao corpo começou a sobrepujar a cultura da mente, tanto para mulheres quanto para homens. Depois o corpo deixou de ser um templo e começou a ser aviltado: rabiscado e perfurado. Há outras formas de prejudicar o corpo, com o excesso de álcool, com as drogas e também com a utilização de suplementos alimentares de uso veterinário, quando se deseja, quase que milagrosamente, um corpo musculoso. 

 Antigamente, perfurar o rosto era coisa de índio botocudo. Coisa de selvagens. As tatuagens também eram coisas de selvagens. Coisa de aborígene ou de presidiário. Agora isso tudo é moda. Índio botocudo retratado por Rugendas Fico imaginando que a próxima geração de idosos deve ser a mais feia que já existiu na Terra, pois esses rabiscos e furos, feitos em corpos jovens com pele lisa, com o processo natural de envelhecimento vai ficar um horror. Com as rugas e as pelancas, os velhos do futuro vão assustar criancinhas! Tenho ideia disso a partir da observação de alguns casos de pessoas que ainda são jovens, mas que a pele já sofreu alterações. Alguns desses merecem ser contados.


Velha tatuada. Pode ter sido engraçadinha quando era jovem! 

Um dia destes vi uma garota vestida daquele jeito que papai não gosta: “menina bonita de perna grossa, vestido curto, papai não gosta”. Ela havia feito duas tatuagens na parte de trás de suas coxas. Eram duas coloridas máscaras astecas. Quem faz tatuagens quer mostrá-las e, por isso, seu vestido era mais curto que o normal. Acontece que há outro processo bastante natural que as pessoas se esquecem: a possibilidade de engordar. Pois é, a menina em questão havia engordado alguns quilos e, logicamente, a tatuagem acompanhou as mudanças da pele. Enquanto a garota andava, a cada passo que dava as máscaras astecas piscavam os olhos. Um de cada vez. 

O Didi Sobral, dentista tatuiano há mais de vinte anos residindo em Portugal, quando vivia aqui no Brasil teve uma namorada “avançadinha”. Ela havia tatuado uma bela iguana, pouco abaixo do umbigo. No ano passado, Didi esteve por aqui a passeio e visitou todos os amigos que o tempo de sua estada permitiu. Quando passou pela cidade da ex-namorada, foi visitá-la. Ah, antes não tivesse ido. Guardaria lembrança de outros tempos. A mulher engordou e aquela bela iguana transformou-se em um horrível crocodilo!

A bela iguana cresceu junto com a barriga da moça, transformando-se em um horrível crocodilo! 

Há coisas ainda piores. As pessoas apaixonam-se e logo vão rabiscando o corpo com o nome da amada ou do amado. A paixão é passageira. Amores vêm e vão. Mas o rabisco tatuado permanece. Para remediar a coisa é complicada. Há a possibilidade, em alguns casos, de apagar a tatuagem com o emprego de um aparelho de raio laser. Mas na maior parte das situações, isso não é possível, tanto devido ao excesso de desenhos e cores, quanto pelo custo desse procedimento. Além de ser extremamente doloroso. Porém, uma das saídas é rabiscar mais uma tatuagem sobre aquela que não se quer mais, “borrando” o texto indesejado. 

 Aqui mesmo em Tatuí tem um exemplo desse tipo de tatuagem arrependida: Quem se lembra do Augusto Cornoló, vendedor de bilhetes? Homem com um bom humor incomparável. Pois bem, ele, apaixonado, tatuou em seu braço os seguintes dizeres: “Deus, eu e Cacilda”, para louvar seu amor. Mas o amor da Cacilda pelo Cornoló acabou e romperam. Pouco tempo depois, ela estava envolvida sentimentalmente com um homem chamado Walter. A tatuagem, no entanto, permanecia. Não dava para apagar. Com seu bom humor, espirituoso que era, Cornoló sermpre tinha uma piada pronta e disse que mandaria tatuar um adendo naqueles dizeres, que ficaria assim: “Deus, eu, Cacilda e Walter”. Porém isso não passou de mais uma piada dele e se transformou em mais uma lenda urbana tatuiana. 

Eis uma foto da citada moringa (ou mucura) do Cornoló! 

O Augusto Cornoló é mais um que faz falta no cotidiano da cidade, com seu bordão: “não esquente a moringa”, que ele mesmo “traduziu” para o castelhano como “non caliente la mucura”. Sorte de quem pode conviver com ele, em uma época em que o "politicamenge correto" não existia!

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