quarta-feira, julho 29, 2009

78) O maior jogador de futebol de Tatuí

O famoso atacante goleador do Palmeiras na década de 50 e campeão mundial de 1958, na Seleção Brasileira de outros tempos, José João Altafini, era conhecido no Brasil como Mazzola, devido à semelhança física e modo de jogar com Valentino Mazzola, ídolo italiano do Torino, nos anos 40.

Descendente de italianos, nascido em Piracicaba, começou a jogar no Clube Atlético Piracicabano, indo parar no Palmeiras em 1955, sendo considerado a grande revelação do futebol brasileiro no ano de 1957. Depois de jogar na Copa de 1958, acabou transferindo-se para a Itália, onde jogou até mesmo na seleção italiana. Vive até hoje em Turim, onde é comentarista de futebol para um canal de TV e uma estação de rádio.

Entretanto, enquanto não tinha fama, jogou em Tatuí, no Esporte Clube São Martinho e, também, no Esporte Club São Bento, de Sorocaba. Aqui começa o caso que nos interessa:

Quem conhece o Osvaldo Paes de Camargo? Pouca gente. E o Aranha relojoeiro? Muita gente! Acontece que em Tatuí não vale o nome de família, o nome que pais e mães escolhem para seus filhos. O que vale mesmo é o apelido. Aranha é o apelido de Osvaldo. Trata-se da mesma pessoa. É preciso, no entanto, não confundir com Osvaldo Aranha, brasileiro que presidiu, em 1947, a Assembleia Geral da ONU que criou o Estado de Israel. O “nosso” Aranha tem muita história para contar, mas sempre ao nível municipal, sendo que o “outro” Aranha é internacional.

Bem, mas o tatuiano tem também uma ligação internacional, pois quando jovem trabalhou para os Iazetti, tatuianos produtores e exportadores de abacaxi. De acordo com o historiador Renato Camargo, a função do Aranha tatuiano era embalar abacaxis para exportação. Ele e seu irmão arrumavam os fardos que eram colocados em um trem e, em seguida, levados à Santos, de onde, embarcados em navios, eram exportados para os Estados Unidos e para a Europa.

Em sua juventude, o Aranha tatuiano foi um dos melhores jogadores de futebol que Tatuí já teve. Um verdadeiro craque goleador. E isso exatamente em uma época em que o futebol tatuiano era um dos melhores do interior paulista. O XI de Agosto conquistou o bi-campeonato amador do Estado de São Paulo, que nessa ocasião não era pouca coisa. O feito do time da égua vermelha foi tão grande que lhe valeu uma menção até mesmo no hino de Tatuí. No estribilho do hino, junto ao amarelo-ouro do abacaxi que o Aranha embalava para exportar, vem a lembrança de “Tatuí do XI de Agosto”. Essa menção advém das glórias do time tatuiano.

Pois bem, o Aranha era jogador titular do São Martinho e, em certa ocasião, veio jogar nesse time nada menos que o Mazzola. Em quem posição? Mazzola foi reserva do Aranha! Algum tempo depois, Aranha foi jogar em Sorocaba, no time do São Bento. Tinha também um reserva: o mesmo Mazzola.

Dada a importância do Mazzola para o futebol nacional e internacional, é preciso considerar o Aranha como o “maior jogador de futebol de Tatuí de todos os tempos”! Além do Aranha, Mazzola só perdeu o lugar de titular para o Pelé, ainda na Copa de 1958, voltando dois jogos depois para substituir o não menos famoso Vavá. No Brasil, Mazzola perdeu sua condição de titular uma vez para Pelé e duas vezes para o Aranha.

Hoje, se você desejar um belo relógio, procure o Aranha. Sua especialidade é negociar relógios:

- Este é um legítimo “Oméga ferradura”! – o Aranha costuma oferecer.

- Tenho também Roscoff Patent, Patek Philippe, Technos, Dumont e este outro Oméga, sem ferradura, mas que é uma beleza!!! – continua oferecendo.

Além do Aranha temos em Tatuí o Adhemar, filho do Tio (isso mesmo, seu pai é o Tio, vereador de Tatuí), que foi artilheiro do São Caetano e, com seu chute poderoso de esquerda, jogou no futebol alemão, no Stuttgart. É uma bela carreira, mas não teve um reserva tão importante e, por isso, consideramos o Aranha como ”o maior jogador de futebol que Tatuí já teve”!

quarta-feira, julho 15, 2009

77) Telegrafistas engraçadinhos

As ferrovias já cumpriram um papel muito mais relevante nos transportes brasileiros, sendo relegadas a um plano inferior devido às políticas de sucessivos governos. A consequência disso são os custos de transporte e da logística da exportação do país, inviabilizando muitas áreas que poderiam gerar mais riquezas.

Mas no assunto ferrovia Tatuí foi uma cidade privilegiada, pois ainda no século 19 recebeu os trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana, o que significava que estava ligada ao resto do mundo. A sigla da Sorocabana – E.F.S. - servia até mesmo como um código de endereçamento postal, em uma época em que não havia o CEP. Endereçava-se uma carta para Tatuí junto com a sigla E.F.S. Pronto, com isto não tinha como errar: era só enviar uma encomenda ou carta com essa referência que chegava em seu destino.

O tatuiano Cícero Serrão trabalhou na Sorocabana mais de 35 anos. Fez de tudo por lá, aposentando-se como Chefe da Estação. Certo dia, quase na época de se aposentar, recebeu um novo funcionário, a quem passou a mostrar a estação e explicar suas funções. No momento em que chegou um trem, viram que outro funcionário, o truqueiro (uma função de ferroviário), pegou uma barra de ferro e pôs-se a bater nas rodas da locomotiva: blém, blém, blém, blém... O novo funcionário que estava com o Serrão observou e estranhou aquilo. Quis saber de que serviam essas batidinhas.

- Ô seu Cícero, por que aquele funcionário bate com isso nas rodas do trem? – perguntou o rapaz.

- Ah! Faz 35 anos que eu vejo alguém fazer isso, todos os dias, e ainda não sei e você quer saber já no primeiro dia! – foi a resposta que o Serrão lhe deu, deixando o rapaz completamente confuso.

Antes de ser Chefe de Estação, Serrão foi telegrafista. O telégrafo foi o primeiro meio eficiente de telecomunicação, inventado por Samuel Morse, consistindo na emissão de sinais – pontos ou traços – que representavam letras, números e pontuação. Com o tempo a pessoa vai decorando os pontos e traços e consegue travar uma conversação bastante rápida utilizando-se desse código.

O Código Morse usa traços e pontos substituindo letras, números e pontuação

O código original de Samuel Morse foi modificado, aperfeiçoando até que quase nada resta de sua configuração original. Nas ferrovias brasileiras o modo de comunicação era sempre o telégrafo, que também era utilizado por todas as pessoas que precisavam comunicar-se com locais distantes. Fui algumas vezes com meu pai na estação de Tatuí da Sorocabana quando ele precisava passar um telegrama.

Certa vez, estando em Itararé (a ferrovia que passa por Tatuí é o “Ramal de Itararé" da Sorocabana) provavelmente realizando um treinamento, Cícero Serrão hospedou-se em uma pensão dessa cidade, juntamente com outros colegas de diversas cidades. Depois de jantar ou almoçar, ficavam distraindo-se brincando de telégrafo, batendo com talheres em copos cheios de água, enquanto conversavam à mesa, observando todos que ali estavam.

Lamartine Babo era mesmo esquisito

Aparecia uma moça bonita e um batia em seus copos, “telegrafando” para o colega com seus pontos e traços: “O-L-H-A-espaço-Q-U-E-espaço-M-OÇ-A-espaço-B-O-N-IT-A”... Entrava outra pessoa, já “telegrafavam” outra coisa qualquer, fazendo comentários sobre ela, a maioria deles jocosos. E assim passavam o tempo...

A estação de Itararé era uma das mais importantes da Sorocabana. Além de ser o final do ramal que se inicia em Iperó, liga o Estado de São Paulo com o Paraná e era também onde aconteciam as baldeações da Sorocabana para as ferrovias que iam ao Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina.

Certa noite, retornando do sul do país, apareceu em Itararé o famoso Lamartine Babo, um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos. Compunha, entre outros gêneros, hinos de times de futebol, como o “Hino do Flamengo” e marchinhas de carnaval, sendo que uma das suas mais famosas é a marcha “O Teu Cabelo Não Nega”.

Enquanto aguardava um trem para prosseguir sua viagem, Lamartine foi à mesma pensão em que estavam Serrão e seus colegas para jantar. Ah! Com sua figura esguia e um tanto esquisita, no mesmo momento tornou-se alvo da brincadeira do Serrão e seus colegas:

Um deles, batendo nos copos, com o código Morse “telegrafou”: tlim, tliiiim, tliiiim, tlim... - “MAGRO, FEIO E DE VOZ FINA”. E começaram a rir.

Lamartine Babo levantou-se de sua mesa e, pegando duas facas, bateu nos copos da mesa do Serrão: “MAGRO, FEIO, VOZ FINA E EX-TELEGRAFISTA”! O homem entendia o código Morse!!!

Ah, quanto sorriso amarelo! Acabou com a graça deles. Os amigos ferroviários não sabiam como pedir desculpas ao homem, mas Lamartine era conhecido pelo seu bom humor e a coisa toda acabou mesmo em gargalhadas.

quarta-feira, julho 01, 2009

76) A Lambreta do Del Bem

A moda no final dos anos 50 e parte dos anos 60 era ter uma Lambreta ou Vespa. A indústria automobilística brasileira dava seus primeiros passos e comprar um automóvel era um sonho distante para a maior parte da população. Mesmo uma Lambreta ou Vespa não era para qualquer um, entretanto, ainda era um sonho que poderia ser possível.

Vespa vermelha

Algum tempo depois a moda passou. O sonho de consumo passou a ser o automóvel: Volkswagen Sedan, DKW, Gordini, Simca, Aero-Willys, etc. A moda era o Fusca!

Alguns anos depois, a motoneta voltou a entrar na moda. Todo mundo queria ter uma, além, é claro, do Fusca.

Nessa segunda vez em que as motonetas ficaram na moda, meados da década de 1980, o advogado e contador de "causos" Luiz Del Bem Jr. trabalhava na CESP e, com muito entusiasmo, comprou uma Lambreta. Era uma motoneta vermelha, bonita, barulhenta e poluidora. Ninguém ligava para isso nessa ocasião.

Lambretta

Prestimoso, quase nem andava com a sua joia. Ficava o tempo todo guardada na garagem da CESP, devidamente coberta com uma lona. Era um misto de veículo e namorada, pois ele tinha ciúmes de sua Lambreta. Ninguém podia mexer na bichinha, que arrumava uma encrenca na hora!

Certo dia, porém, teve de ir ao banco e, sem alternativa, montou na Lambreta. Uns minutos depois chegou ao Banespa, seu destino. Estacionou a motoca em frente à Ótica Peixoto e entrou no banco. Ah, mas estava preocupado! E se roubassem seu tesouro?

Sentou-se em frente ao gerente para tratar de negócios, ao mesmo tempo em que olhava para a rua, vigiando a motoca. Olha aqui, olha lá, impaciente, agitado... o gerente teve a impressão que o Del Bem havia ficado estrábico, pois colocou um olho nele e outro na rua.

O gerente do banco ficou preocupado com as atitudes do Del Bem. Pensou que ele estivesse tendo um treco qualquer e, por isso, resolveu a coisa rapidamente. Ainda bem, porque se aquilo demorasse mais 2 minutos o Del Bem ficaria vesgo para sempre!

Com um olho no gerente e outro na Lambreta, Del Bem arriscava ficar completamente estrábico!

Aliviado, saiu logo à rua. Não conseguiu atravessar a rua em um primeiro momento, pois o sinal estava aberto na Rua Onze e os carros passavam rapidamente. Quando o sinal foi fechando, percebeu que alguém saía montado em uma Lambreta vermelha. Um ladrão?

Não teve dúvidas, atravessou correndo a rua e, com um pulo, grudou no pescoço do rapaz que pilotava a Lambretta. Apertou o quanto pode. O rapaz, assustado, tentando se ver livre daquela situação, acelerou a motoneta.

Del Bem, com grande presença de espírito, levantou a parte traseira da Lambreta, que ficou com a roda girando no ar, mas sem conseguir sair dali. Gritava para o rapaz desligar o motor, mas acho que ele nem escutou, pois o ruído da máquina era alto. A fumaça do motor de 2 tempos enchia a rua, chamando a atenção de todos que ali estavam, inclusive de alguns policiais. Com a Lambreta acelerada e a roda girando em falso no ar, Del Bem olhou o velocímetro da motoneta, que marcava quase 100 quilômetros por hora.

Nesse mesmo instante, com o rabo do olho, viu estacionada em frente à Ótica Peixoto, a sua Lambreta. Imediatamente percebeu seu erro e soltou o pescoço do rapaz e a traseira da motoca. Quando a roda tocou no chão, girando em rotação máxima, o pneu patinou um pouco e a motoneta partiu como um raio, fazendo zig-zag, mas habilmente equilibrada pelo rapaz, que sumiu em instantes.

Os policiais, percebendo que o rapaz havia escapado, iam saindo em perseguição, quando o Del Bem, tentando disfarçar a situação, disse que o deixassem ir. Era um rapaz bem jovem e que, certamente, não tinha habilitação, apesar de sua habilidade em pilotar. Não quis conversa e desapareceu.

Todos ficaram intrigados com o acontecido, mas quando o Del Bem montou em sua Lambreta vermelha, idêntica à do rapaz, entenderam a cena e o engano ocorrido. Gargalhada geral!