sexta-feira, dezembro 15, 2006

61) Papai Noel em Tatuí

É quase Natal. O centro da cidade está movimentado o dia todo. Lojas cheias de clientes e de “papais noéis”... No ano passado, lá no Coop, vi um "papai noel" tão magro que fiquei com dó e lhe paguei uma coxinha...

Os comerciantes adoram esta época! É nesta ocasião que muita gente compra coisas que foi protelando o ano todo. Em dezembro o 13º salário (mesmo que só pela metade neste ano) dá uma reforçada nas finanças e vamos gastar!!!

Para as crianças, então, estes são uns dias mágicos... é a ocasião de receber presentes trazidos pelo Papai Noel. Muita coisa tem mudado nos últimos anos, mas essa tradição tem sido perpetuada, menos pelo seu sentido religioso e mais pelo comercial.

Os presentes eram trazidos por Noel

Nos anos 50 e 60 já era mais ou menos assim. Lembro-me dos natais de minha infância. Parecia que a atmosfera mudava. Havia algo diferente no ar. O centro de encontros em Tatuí era a Praça da Matriz. Não tão movimentada quanto hoje, claro.

As lojas eram poucas, hoje há brinquedos em qualquer lugar e as crianças ganham brinquedos em qualquer ocasião. Antigamente era apenas no Natal e no aniversário... e olha lá!!!

Naquele tempo já existia a Casa dos Presentes. Era pequena ainda, mas era a referência do Natal e, por isso, enchia-se de brinquedos. Nem cabia tudo por lá... o Jonas e o seu Mário, no final dos anos 50, chegaram a alugar outros pontos para colocar os brinquedos. Eu achava que os dois irmãos eram uma espécie de ajudantes do bom velhinho... eram irmãos, mas diferentes tipos de personalidade: seu Mário era mais sério, o Jonas brincalhão.

Jingle Bells!

Pena que não consigo descrever a música que tocava lá durante todo o mês de dezembro: Tlim-tlim-tlim... tlim-tlim-tlim... tlim-tlim-tlim-tlim-tlim!! Tlim-tlim-tlim... tlim-tlim-tlim... tlim-tlim-tlim-tlim-tlim... Jingle bells, Jingle bells... Jingle all the way!!!! Esse som entrava no ar e mudava a atmosfera: Tudo girava em torno do Natal!

No mês do Natal, enquanto seu Mário cuidava da administração, o Jonas fazia a criançada enlouquecer os pais pedindo presentes. Sei disso porque quando eu era criança escolhi um brinquedo magnífico na Casa dos Presentes, mas meu pai achou que era muito caro.

O Jonas na mesma hora disse que eu poderia escolher qualquer coisa:

- Pode escolher o que quiser, o Papai Noel é rico! – disse o Jonas.

Mas mesmo assim o meu pai não deixava escolher aquele tal brinquedo. Mas que coisa! Eu não entendia aquilo. Se o Papai Noel vai me dar o brinquedo, porque o meu pai não me deixava escolher o que queria?

Há uma curiosidade... enquanto Papai Noel escrevia com caneta verde, o Jonas só escreve com tinta verde!

E quem era a maior autoridade em Natal aqui em Tatuí? O próprio Jonas! Eu tinha uma consideração enorme para com ele. Aliás, não apenas eu, mas toda criançada de Tatuí. Pudera, ele trouxe pessoalmente o Papai Noel em Tatuí. O verdadeiro! O Jonas mandou trazer do Pólo Norte e desfilou em seu carro conversível (um Chevrolet, se não me engano) levando nada menos que o verdadeiro Noel no banco traseiro!

- “Puxa vida!” – pensei. - “Que homem importante esse Jonas!!! Amigão do Papai Noel!!”.

Então, se esse homem, tão chegado do Papai Noel, dizia para eu escolher qualquer brinquedo, o meu pai não tinha nada que impedir.

Mas no final das contas, não consegui convencer o meu pai. Só que o Jonas mostrou mais um monte de brinquedos e deu um jeito para eu escolher outras coisas e acabei esquecendo daquele outro.

– “Ele sabe das coisas!” – considerei. – “É amigo do Papai Noel!”.

Acho que a tinta que o Jonas usa só é fabricada no Pólo Norte!

Até hoje o Jonas ajuda o Papai Noel. Só mudou o lado da praça. Acho que ele também aguarda o bom velhinho chegar para trazer um vidro de tinta Parker Quink verde para abastecer a sua Parker 51, a caneta que ele usava para pedir os brinquedos do Natal.

A criançada pode escolher o que quiser, porque o Jonas já disse que o Papai Noel é rico!

Antes de encerrar tenho que lembrar que há um paradoxo no Natal, pois o foco das celebrações foi desviado para o Papai Noel, para a ceia e para os presentes. O personagem principal, Jesus, foi deixado de lado. A data tem sido mais utilizada em um enfoque comercial.

Assim, todos se lembram primeiramente das festas, das comemorações, dos encontros com parentes, amigos, confraternizações com colegas e, se sobrar algum tempinho, dedicam ao homenageado principal.

FELIZ NATAL!

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