sexta-feira, junho 23, 2006

50) O maior cantor de serestas de Tatuí

Jarbinhas Sobral sempre foi um amante da música. Era ainda um menino e já cantava e tocava violão nas serenatas, isto lá pelo final da década de 60. Eu mesmo participei de algumas serenatas junto com ele. Em algumas ele soltava sua voz, encantando a homenageada, mas, vez por outra, entrava com algumas brincadeiras e trocando a letra das músicas em paródias horrorosas, fazia todo mundo sair correndo… Aquilo poderia até dar encrenca!!!

O danado tem uma bela voz! Quer dizer, não é um vozeirão de um Francisco Egídio ou Roberto Rosendo, mas é bom!

Seu repertório é mais ou menos eclético, mas tem uma queda para a música de seresta. Em Tatuí, durante algum tempo, teve até festival da seresta, uma tentativa de ressuscitar um gênero que teve seu auge no início do século passado. Alguns saudosos tentaram dar uma sobrevida ao gênero, mas isso significava o mesmo que fazer o Volkswagen de novo: sentar numa prancheta e recomeçar a desenhar o Fusca... não havia nenhuma vantagem nisso.

Nesse mesmo gênero musical, Bruno Baroni, outro tatuiano amante da música (e das corridas no Jockey, diga-se de passagem) tentou lançar-se como compositor de serestas.

Baroni ganhou o troféu abacaxi, que se recusou a pegar

Fez e apresentou na Discoteca do Chacrinha uma canção dedicada ao Velho Guerreiro, que lhe deu uma sonora buzinada e um abacaxi.

Entanto, sempre há público para músicas de seresta. São saudosistas que desejam relembrar momentos importantes de seu passado. É exatamente nisto que o extinto Festival da Seresta de Tatuí pecava: saudade requer tocar novamente as músicas existentes e não fazer novas composições sem ligação sentimental alguma.

Mas vamos voltar ao protagonista deste caso. Certo dia, cerca de quinze anos atrás, Roberto Rosendo, que nessa ocasião comandava um programa de seresta num canal de televisão de Itu, convidou o Jarbinhas para cantar em seu programa semanal. Claro que ele aceitou. Quem se dedica à música adora uma platéia, quanto mais sendo transmitido pela televisão... mesmo que fosse um canal com alcance apenas em uma pequena região.

No dia do programa, Jarbinhas foi para Itu com alguns amigos. Chegou bem adiantado... não seria ele a dar o cano. Conversou com os músicos que iriam acompanhá-lo em sua apresentação, ensaiou e ficou aguardando a hora de entrar em cena.

Ô enrolação!!! Programa de televisão tem que atender aos patrocinadores, tem uma seqüência a seguir e, para completar, talvez aumentada pela ansiedade do Jarbinhas, parecia que a “falação” do Rosendo não tinha fim... Entrava um artista, cantava 2 ou 3 minutos e o Rosendo preenchia o resto do tempo com 15 minutos de conversa... Anunciava que naquele programa receberia, para cantar, Jarbas Sobral, o maior cantor de seresta de Tatuí.

Com a ansiedade, Jarbinhas tinha impressão que o Rosendo não parava de falar com seu auditório

E o Jarbinhas esperando, desesperado!

Entra artista, sai artista e o Rosendo não parava de falar:

- Hoje receberemos aqui o maior seresteiro de Tatuí. O maior violonista da região de Tatuí! – repetia incessantemente Rosendo.

- Receberemos aqui o doutor Jarbas Sobral, o maior dentista da região de Tatuí! – empolgado, Rosendo continuava a valorizar seu convidado.

E canta um e canta outro, entra intervalo e sai intervalo, mas o Jarbinhas nunca era chamado.

O Rosendo continuava a anunciar “o maior seresteiro de Tatuí”. “O maior isto e o maior aquilo”.

E o Jarbinhas nervoso, ficava roendo suas unhas.

Depois de tanta enrolação, parecia que nem mesmo ia cantar. Mas chegou a tão esperada hora. Alguém apareceu e avisou ao Jarbinhas que ele entraria em seguida.

Daí parece que o Rosendo enlouqueceu:

- Vamos receber agora o maior cantor de seresta de Tatuí. O maior barítono da região, o melhor violonista, seresteiro aclamado pelas mais seletas platéias. O maior dentista de Tatuí. O cirurgião das elites! A voz mais afinada... o dentista musical!

- Com vocês: o grande Jarbas Sobral!

Jarbinhas, nervoso com a demora e a infindável apresentação, entrou no palco quase que tropeçando.

Por alguns instantes, Jarbinhas sentiu-se como um palhaço perdido

Quando chegou ou microfone, Rosendo continuou:

- Ele é também o maior contador de piadas de Tatuí!

- Jarbas, conte uma piada para nós! – disse Rosendo, sem qualquer prévia combinação.

- Ééééhhh! – o Jarbinhas engasgou. Não esperava isso, não lembrava de nenhuma piada. Aliás, não se lembrava nem mesmo o que estava fazendo ali... luzes, câmeras, aplausos...

Mas teve uma saída brilhante:

- Está feita a piada! – disse Jarbinhas – Há quarenta anos eu sonho em cantar na televisão e quando venho para cantar pedem para contar uma piada!!!

Cantando, Jarbinhas encantou!

Nem o Rosendo esperava por essa escapada do Jarbinhas, que, logo em seguida, soltou seu vozeirão e cantou Carinhoso, para o delírio da platéia.

Artista é artista, sempre. Ainda mais quando é tatuiano.

Um comentário:

Anônimo disse...

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