domingo, dezembro 20, 2009

81) Rua Augusta, Zero Hora!

A década de 1960 foi muito importante para a humanidade toda, devido aos acontecimentos que mudaram o comportamento da sociedade ocidental. Foi quando surgiram os Beatles e os Rolling Stones e o mundo nunca mais foi o mesmo de antes.

O Brasil não ficou fora desse processo de transformação, tendo como centro a música e outras artes, surge um programa na TV Record denominado "Jovem Guarda", com Roberto e Erasmo Carlos, e inúmeros artistas do cenário artístico nacional.

O visual do Roberto e do Erasmo, nos padrões atuais, é horrível. Mas foi moda!

A influência do movimento da Jovem Guarda, seguindo as tendências provenientes dos cantores estrangeiros, contribuiu para mudar o modo de vestir e o comportamento de uma geração inteira. Todos queriam assumir algo que tivesse ligação com seus ídolos.

A televisão ainda era uma novidade e o papel dessa mídia no comportamento das pessoas ainda não era totalmente conhecido. O país era ainda conduzido pelo rádio. Os jovens passaram a deixar crescer seus cabelos, imitando os Beatles. As moças encurtaram as saias, usando a invenção de Mary Quant: a minissaia. Logo surgiram os hippies com a ideologia de paz e amor. E muitas modas vieram e passaram...

Em Tatuí a coisa não foi diferente. Apesar de ser uma cidade do interior, os comportamentos começaram a mudar. Por exemplo: quem tinha um Volkswagen não tinha sossego, pois sempre havia alguém disposto a arrancar seu lavador de para-brisas para fazer um anel igual ao do Erasmo Carlos: um anel chamado "brucutu".

Cena do programa Jovem Guarda, da TV Record.

Foi uma verdadeira febre para aprender tocar violão. Todos desejavam tocar e cantar as músicas da Jovem Guarda. Cada qual ajeitava as coisas para ficar em sintonia com seu ídolo. O maior deles foi, claro, Roberto Carlos. Um deixava crescer o cabelo para ficar igual ao Roberto. Outro aprendia a tocar violão para cantar igual ao Roberto.

Havia um rapaz que tentava imitar alguma coisa desse artista, mas seu cabelo, rebelde, não permitia pentear igual ao Roberto. Sua voz, desafinada, não permitia cantar e como não tinha ouvido musical, também não aprendeu a tocar violão. Mas deu um jeito: no footing da Praça da Matriz, andava arrastando uma perna, mancando, para com isso imitar seu ídolo!

Mas isso não foi nada. Em meados da década de 60, o Tita Bastos entrou em um consórcio para adquirir um Volkswagen Sedan (ainda não se chamava Fusca), que era o sonho de consumo de todos nessa ocasião. Quando foi contemplado, recebeu seu automóvel zero quilômetro. Lindo! Fez um tremendo sucesso na cidade. Há que destacar que havia poucos carros na cidade e quem tinha um garantia seu sucesso.

Certo dia, passeando à toa, Tita confessou ao Cabreira, seu amigo, que tinha ainda outro sonho a realizar:

- Eu quero andar a 120 por hora na Rua Augusta!

A Rua Augusta, toda em paralelepípedo. Não era muito fácil andar a 120 por hora aí!

Tita Bastos queria fazer como dizia a letra de uma música que fazia grande sucesso na Jovem Guarda, gravada pelo Ronnie Cord em 1964: "Entrei na Rua Augusta a 120 por hora / Botei a turma toda do passeio pra fora / Fiz curva em duas rodas sem usar a buzina / Parei a quatro dedos da vitrina..."

- Mas então vamos à São Paulo! - incentivou o Cabreira.

Nesse final de semana foram à São Paulo. Cabreira considerou que era melhor esperar a madrugada, pois em outro horário isso seria impossível. Foram tomar uns drinques no Largo do Arouche. Ficaram lá até meia-noite, quando então foram à Rua Augusta. Ainda tinha movimento, mas estava diminuindo. Naquela noite chovia um pouco e as pessoas foram embora logo.

Assim que diminuiu o movimento, Tita Bastos acelerou seu carro, olhando para o velocímetro. 80, 90, 100, 110... 120 quilômetros por hora. O carrinho parecia voar. Cabreira, fingindo coragem, ao perceber que atingiram os 120 por hora gritou:

- Dê pelo menos 125 por hora, porque 120 até o Roberto Carlos já andou!!!

"Hay, hay, Johnny / Hay, hay, Alfredo / Quem é da nossa gang não tem medo / Hay, hay, Tita / Hay, hay, Cabreira / Quem é da nossa gang não tem medo..."

Depois ainda dizem que os jovens de hoje não tem o juízo no lugar!