sábado, fevereiro 21, 2009

73) Horário de Verão

Durante a ditadura de Getulio Vargas, o consumo de energia elétrica no Brasil aumentava constantemente e não havia fornecimento suficiente. Nessa ocasião o país se eletrificava. A saída encontrada foi implantar o horário de verão.

O horário brasileiro de verão foi estabelecido para aproveitar a luz do sol na época em que há maior luminosidade no hemisfério sul. Prevê-se uma razoável economia no consumo de eletricidade com essa mudança. Entretanto, tinha sido imposto por um governo não democrático e ficou conhecido como o “horário do Getulio”.



Na década de 1960, com a intensificação do processo de industrialização do país, ocorreram situações de escassez de energia elétrica e, em alguns anos, foi novamente estabelecido o tal horário de verão para auxiliar suplantar essa dificuldade.

É preciso acertar os relógios duas vezes por ano!

Algumas pessoas, como meu tio José, não modificavam o relógio porque, dizia:

-Esse é o horário do ‘márdito’ Getulio!

Como era teimoso ao extremo, todos os seus relógios continuavam com o horário normal o ano todo.

Getulio liderou o golpe de 1930

Essa birra contra Getulio Vargas vinha da década de 1930, quando ele deu o golpe contra Julio Prestes e assumiu a presidência, desbancando o PRP e a política do “café-com-leite” que comandava o Brasil desde o final da monarquia.

Meu avô Tonico, peerrepista e revolucionário constitucionalista, nunca perdoou Getulio, sendo acompanhado nisso pelo seu birrento filho.

No inverno, o vento frio vem da região antártica e passa por terras gaúchas, origem de Vargas, até chegar para esfriar Tatuí.

Quando ventava frio, vovô dizia:

- Arre! Do sul nem o vento presta! – fazendo com isto referência ao famoso gaúcho.

Pois bem, tio José nunca acompanhava o horário de verão em função de sua implicância com Getulio, que nessa época já havia falecido.

Havia, no entanto, outras pessoas que não acompanhavam esse horário, mas devido a outros motivos, como foi o caso de Rita, mulher ingênua que era empregada de João Augusto, o velho.



Logo depois de uma mudança de horário, Rita começou a chegar atrasadíssima em seu emprego. Ela precisava tomar um ônibus para vir de sua casa ao trabalho. Mas estava perdendo o primeiro ônibus e ficava esperando um tempão pelo próximo.

- Eu cheguei ao ponto e o ônibus já tinha passado! – explicava-se a cada atraso.

Rita ficava um tempão esperando o próximo ônibus

- Você acertou o relógio com o horário de verão? – perguntou alguém da casa em que trabalhava.

- Ah, acertei sim! – respondeu Rita.

Mas os atrasos continuaram e não conseguia pegar o ônibus. Verificaram os horários e constataram que não havia nenhuma alteração e todas as linhas estavam funcionando normalmente. Que mistério!



Em mais uma tentativa de resolver o problema, perguntaram novamente a respeito da mudança do relógio da casa da Rita, que esclareceu:

- Eu acertei o relógio, mas achei que era muito adiantar uma hora inteira e adiantei só meia hora! – explicou Rita.

Com essa sua meia-hora de verão, Rita ficou fora do horário.