O horário brasileiro de verão foi estabelecido para aproveitar a luz do sol na época em que há maior luminosidade no hemisfério sul. Prevê-se uma razoável economia no consumo de eletricidade com essa mudança. Entretanto, tinha sido imposto por um governo não democrático e ficou conhecido como o “horário do Getulio”.

Na década de 1960, com a intensificação do processo de industrialização do país, ocorreram situações de escassez de energia elétrica e, em alguns anos, foi novamente estabelecido o tal horário de verão para auxiliar suplantar essa dificuldade.
É preciso acertar os relógios duas vezes por ano!
Algumas pessoas, como meu tio José, não modificavam o relógio porque, dizia:
-Esse é o horário do ‘márdito’ Getulio!
Como era teimoso ao extremo, todos os seus relógios continuavam com o horário normal o ano todo.
Essa birra contra Getulio Vargas vinha da década de 1930, quando ele deu o golpe contra Julio Prestes e assumiu a presidência, desbancando o PRP e a política do “café-com-leite” que comandava o Brasil desde o final da monarquia.
Meu avô Tonico, peerrepista e revolucionário constitucionalista, nunca perdoou Getulio, sendo acompanhado nisso pelo seu birrento filho.
No inverno, o vento frio vem da região antártica e passa por terras gaúchas, origem de Vargas, até chegar para esfriar Tatuí.
Quando ventava frio, vovô dizia:
- Arre! Do sul nem o vento presta! – fazendo com isto referência ao famoso gaúcho.
Pois bem, tio José nunca acompanhava o horário de verão em função de sua implicância com Getulio, que nessa época já havia falecido.
Havia, no entanto, outras pessoas que não acompanhavam esse horário, mas devido a outros motivos, como foi o caso de Rita, mulher ingênua que era empregada de João Augusto, o velho.

Logo depois de uma mudança de horário, Rita começou a chegar atrasadíssima em seu emprego. Ela precisava tomar um ônibus para vir de sua casa ao trabalho. Mas estava perdendo o primeiro ônibus e ficava esperando um tempão pelo próximo.
- Eu cheguei ao ponto e o ônibus já tinha passado! – explicava-se a cada atraso.
Rita ficava um tempão esperando o próximo ônibus
- Você acertou o relógio com o horário de verão? – perguntou alguém da casa em que trabalhava.
- Ah, acertei sim! – respondeu Rita.
Mas os atrasos continuaram e não conseguia pegar o ônibus. Verificaram os horários e constataram que não havia nenhuma alteração e todas as linhas estavam funcionando normalmente. Que mistério!

Em mais uma tentativa de resolver o problema, perguntaram novamente a respeito da mudança do relógio da casa da Rita, que esclareceu:
- Eu acertei o relógio, mas achei que era muito adiantar uma hora inteira e adiantei só meia hora! – explicou Rita.
Com essa sua meia-hora de verão, Rita ficou fora do horário.