segunda-feira, março 01, 2010

84) Em busca do Pote de Ouro

Há, pelo menos, dois mundos em que se vive. Um deles, ideal, está presente em nossos sonhos. O outro, real, é onde se vive. A chave liga/desliga entre um e outro é o despertar/adormecer. O mundo real é trabalhoso, para se dizer o mínimo. Já no mundo dos sonhos há arco-íris com potes de ouro. Algumas pessoas são sonhadoras e buscam potes de ouro também no mundo real.

É com a imaginação que são criadas as soluções para todos os entraves que possam impedir o progresso da humanidade. Einstein percebeu a importância da imaginação, quando disse que ela seria mais importante que o conhecimento, pois o conhecimento é limitado e a imaginação envolve o mundo. Só que, se sonhar é permitido, não significa que todos os sonhos serão transformados em realidade. Mas não custa tentar, claro.

Conheço uns amigos que estão sempre tentando: certo dia de dezembro, alguns anos atrás, o Luis Carlos Azevedo, o Pelé, procurou seu amigo Alcides Camilo (Véia) com um “negócio da China”, e foi dizendo:

- Véia, eu estava em Piracicaba e descobri que lá não tem mais leitoas para o Natal e final de ano! – disse, meio afobado. – Sei de um homem em Cesário Lange que criou leitoas e não conseguiu vender tudo! E ele dá um prazo pra pagar! – rematou.

Conversaram um pouco e concluíram que o negócio era “batata”. Compra aqui e vende ali. Na mesma hora surgiu na frente dos dois a imagem de um pote de ouro e resolveram ir à Cesário Lange comprar leitões. Lucro na certa!

Havia apenas um pequeno problema: onde guardar os leitões até o abate. A casa do Pelé não tinha quintal e a do Camilo tinha, mas era pequeno. Assim mesmo resolveram guardar lá os porquinhos. Era só por um ou dois dias. Compraram 50 leitões. Quando o caminhão do criador entregou os animais, perceberam que a cerca do quintal estava muito ruim e todos os porcos escapariam.

- Vamos então prender os bichos dentro de casa! – resolveram, pois no dia seguinte já iam abatê-los.

Ah, mas que horror! Desde que chegaram à casa do Véia foi só Oinc, Oinc, Oinc... e Quiiiimmm, Quiiiimmm, Quiiiimmm! O barulho daquela vara de leitões foi incessante, além do cheiro terrível! Para piorar, os porquinhos fuçaram pela casa toda e comeram os pés dos armários, guarda-roupas, mesas e cadeiras, alguns tapetes e tudo que encontraram pela frente! Isso sem contar a quantidade de cocô que produziram!

Depois de uma noitada emporcalhada, Pelé apareceu com dois tambores e um ex-açougueiro para abater os animais. Que judiação! Foi uma verdadeira carnificina! Os grunhidos desesperados dos porquinhos no momento do abate foi uma coisa indescritível! E, para dar conta do abate de meia centena de leitões, nem bem estava morto um bicho, já iam “pelando” na água fervente. O sangue, as tripas, a sujeira espalhava-se pelo quintal. Foram necessários dois horríveis dias para matar e limpar os animais, pois em um dia, só deu para lidar com uns 30 leitões.



Como a coisa ia dar muito lucro, Pelé comprou um Dodge Charger para levar os leitões limpos à Piracicaba. Ia pagar com o lucro da venda dos porquinhos. Alegou que esse carro tinha um porta-malas espaçoso. Por falar em espaço, isso não existia mais na casa do Véia. Estava lotada de leitões e leitoas, limpos e devidamente preparados para serem vendidos.

No segundo dia do abate, enquanto prosseguia a mortandade na casa do Véia, Pelé lotou o porta-malas do Dodge e foi vender em Piracicaba. E não é que vendia fácil mesmo? Em todos os locais em que ofereceu, vendeu. Só que as pessoas queriam comprar apenas “traseiros” dos leitões, mas não os “dianteiros”. Daí que metade da carga voltou.

Quando o Pelé voltou à casa do Véia, não havia mais espaço nem para um toucinho, quanto mais para um porta-malas lotado de “dianteiros” de leitões. A coisa ficou complicada, mas o pote de ouro ainda brilhava no final do arco-íris, pois no dia seguinte tudo seria diferente, imaginaram.

Mais uma viagem de Charger à Piracicaba e os traseiros foram vendidos. Sobraram quase todos os “dianteiros”. Não cabiam na geladeira e não dava para deixar fora. Alguns já haviam sido abatidos há dois dias! Parecia que estavam meio esverdeados. Tinham que lavar com sabão e bucha. Com muito esforço e descontos, alguns dianteiros acabaram sendo vendidos e os restantes serviram de presentes para quem quisesse.

Como foram muitas viagens de Dodge, a despesa com a gasolina acabou com a possibilidade de lucro. A coisa deu errada e não sobrou nem para pagar o fornecedor dos leitões. Foi um perereco para acertar com o criador dos porcos, que aparecia o tempo todo na casa dos dois amigos. O pote de ouro, por sua vez, claro, não apareceu!